Recebi o seguinte
-email com perguntas referentes ao dia do Senhor:
"Lucas, (...) Você trouxe uma
informação interessante... "mas Deus nos ordenou que guardássemos o
domingo em nossa época." Por muito tempo me questionei sobre isso, "Deus mudou o sábado para o
domingo?" ou "Não devemos guardar só um dia mas sim todos?" e
até "O sábado foi abolido e contanto que se escolha um dia na semana,
qualquer dia serve?"
Caro amigo, a Palavra diz que o
prudente é aquele que examina as escrituras, [e] diz que devemos examiná-la
(João 5: 39), diz que devemos ser espertos como serpente, porém inocentes como
pomba (Mateus 10:16). Então eu lhe pergunto: Como me provas que Deus ordenou que guardássemos o domingo?
Quero
saber como chegou a essa conclusão para que eu possa ter ciência e cumprir com
a vontade Dele.
Quando responderes... queria que
fizesse uma reflexão. No livro de Daniel capítulo 7 versículo 25. O profeta
disse que o maligno [que] em algum momento [haveria uma mudança na] lei.
Observando este dito, o que foi mudado na lei, não do tempo de Moisés, mas da
fundação do mundo para este tempo?
Minha
opinião: Se Deus mudou o sábado para o domingo, Ele deveria ter deixado isso
mais claro na Sua palavra... Como um mandamento que Ele diz ser um sinal
(Ezequiel 20:20) e um sinal perpétuo (Êxodo 31:16) pode ser mudado assim?
Continuo a crer que o sábado do Senhor é santo desde a fundação do mundo
(Gêneses 2:3). Mas ainda sim quero saber sua opinião e o que tu tens a
dizer-me."
São perguntas pungentes, que
mostram uma longa ponderação a respeito do dia do Senhor. Darei a resposta mais
completa que me for possível, porém devo fazer uma advertência. A advertência
consiste em um pressuposto necessário para compreensão de qualquer assunto
espiritual. Esse pressuposto é o desejo
de aprender e a humildade para
que esse aprendizado seja possível. A capacidade de ser doutrinável, neste
contexto é a aptidão de ouvir atentamente sem julgar, considerar demoradamente
e depois, buscar uma consideração espiritual da verdade por meio de revelação.
Com isso em mente não estarei
buscando travar uma batalha de escrituras para provar que estou certo.
Mostrarei de maneira lógica e coerente porque penso que o Dia do Senhor deve
ser guardado no domingo e responderei as demais questões. Porém a questão é
sobre tudo pessoal. Cada um deve buscar conhecer a verdade pelo poder do
Espírito Santo por si mesmo.
Usarei a Bíblia como fonte - mas
não me conterei se for preciso usar outros escritos sagrados - como o Livro de
Mórmon e as palavras dos profetas vivos. Também recorrerei a outros escritos e
fatos históricos. A veracidade de minhas fontes pode ser questionada por alguém
que crê que a Bíblia é o único escrito divino e confiável, porém não sou
obrigado a responder qualquer coisa em moldes de preconceito e ceticismo - ou
limitado por outros pontos de vista e crenças. Responderei o que me é
solicitado segundo minha própria crença e fé, de maneira lógica. Serei cauteloso
em explicar termos e situações que talvez sejam desconhecidos pelos que não são
de minha fé. Peço, portanto, que os que não compartilham os mesmos valores e
crenças que leiam minhas palavras com certa misericórdia - exercendo aquele
pressuposto de humildade que falei. Depois de terminarem a leitura com a
"mente aberta" que façam o seu julgamento.
Estou muito mais disposto a
falar sobre o principio por trás do mandamento de se guardar o dia do Senhor. Escrever
sobre o propósito, dimensão e bênçãos deste dia sagrado é certamente muito mais
agradável que procurar provar o dia exato que se deva guardar. Ao falar isso
não quero comprometer a importância de se cumprir com exatidão a Palavra de
Deus. Não podemos "supor que [nos] será possível virar a mão direita do
Senhor para a esquerda" (3 Néfi 29:9). O Senhor é um Deus de ordem
(D&C 88:119). Mas o enfoque em questões
exteriores - a letra da lei, a
historicidade - sem a ênfase no mais importante - o espírito, o princípio - pode nos fazer tropeçar no fanatismo,
ceticismo ou, pelo menos, em exageros desnecessários. Isso aconteceu com os
judeus da época do Salvador, a quem Ele acusou de hipócritas (Mateus 23:23).
Para não correr esses risco explicarei brevemente a doutrina do dia do Senhor.
Farei isso de maneira sintética, já que as questões apresentadas exigem uma
resposta mais restrita e exata - que não englobam a discussão do princípio em
si. Creio que isso ocorre porque o inquiridor já concorda comigo que há um dia
especial - reservado para adoração, onde devemos descansar dos nosso labores.
Mesmo assim, já que estou postando as perguntas e respostas em um local
publico, necessário é que as primeiras coisas sejam ditas em primeiro lugar.
A Doutrina e o Propósito do Dia do Descanso
Para explicar a essência do Dia
do Senhor usarei duas citações retiradas dos livros da Igreja:
"Dia do Descanso - Dia
sagrado, reservado na semana para descanso e adoração. Depois que Deus criou
todas as coisas, descansou no sétimo dia e ordenou que fosse separado um dia da
semana como dia de descanso para que as pessoas se lembrassem dele (Êx.
20:8–11). Antes da Ressurreição de Cristo, os membros da Igreja guardavam o
último dia da semana como dia de descanso, como faziam os judeus. Depois da
ressurreição, os membros da Igreja, quer judeus quer gentios, guardavam o
primeiro dia da semana (o dia do Senhor) para lembrar a ressurreição do Senhor.
A Igreja hoje continua a guardar um dia por semana como o dia sagrado de
descanso, no qual adoramos a Deus e descansamos dos labores do mundo.
O dia de descanso
lembra às pessoas a necessidade de alimento espiritual e o dever de obedecer a
Deus. Quando uma nação se descuida da observância do dia de descanso, todos os
aspectos de sua vida são afetados e sua vida religiosa decai (Nee. 13:15–18;
Jer. 17:21–27)" (GEE "Dia
do Descanso")
"Nosso comportamento no Dia
do Senhor é uma manifestação de nosso compromisso
de honrar e adorar
a Deus. Ao santificarmos o Dia do Senhor, mostramos a Deus nossa
disposição de
cumprir nossos convênios. Todo domingo, vamos à casa do Senhor para
adorá-Lo. Enquanto
estamos ali, tomamos o sacramento para lembrar-nos de Jesus Cristo
e Sua Expiação.
Renovamos nossos convênios e mostramos que estamos dispostos a
arrepender-nos de
nossos pecados e erros.
Nesse dia, descansamos de nossos
labores. Ao assistirmos às reuniões da Igreja e
adorarmos juntos,
fortalecemo-nos uns aos outros. Sentimo-nos renovados renovados
pelo convívio com
amigos e familiares. Nossa fé é fortalecida ao estudarmos as escrituras
e aprendermos mais
a respeito do evangelho restaurado.
Quando uma comunidade ou nação
se torna negligente em relação a suas atividades
do Dia do Senhor,
sua vida religiosa decai e todos os aspectos da vida são afetados de
modo negativo. As
bênçãos associadas à santificação do Dia do Senhor são perdidas. Não
devemos fazer
compras no Dia do Senhor nem participar de outras atividades esportivas
e comerciais que
hoje são tão comuns e profanam o Dia do Senhor.
Os santos dos últimos dias devem
separar, esse dia santificado, das atividades
do mundo, adotando
um espírito de adoração, gratidão, serviço e realizar atividades
centralizadas na
família que sejam adequadas ao Dia do Senhor. Se os membros da Igreja
se esforçarem para
tornar suas atividades do Dia do Senhor compatíveis com a vontade
e o Espírito do
Senhor, sua vida se encherá de alegria e paz." ("Santificar o Dia do
Senhor", Pregar Meu Evangelho,
pg. 75)
Os seguintes links e discursos
podem contribuir para uma melhor compreensão sobre do Dia do Descanso:
http://www.lds.org/library/display/0,4945,538-1-4349-10,00.html
http://lucasmormon.blogspot.com.br/2011/03/consideracoes-sobre-o-dia-do-senhor.html
http://lucasmormon.blogspot.com.br/2011/03/consideracoes-sobre-o-dia-do-senhor.html
As questões.
Dito isso. Comecemos a responder
as questões. Notei que as perguntas apresentadas são estas sete:
1.
Deus mudou o dia santificado de sábado para o
domingo?
2.
Devemos guardar só um dia ou todos?
3.
Se o sábado foi abolido, qualquer dia da semana
serve?
4.
Qual é a prova que mostra que Deus mudou o dia
sagrado?
5.
Se Deus mudou o dia sagrado, porque não há uma
passagem mais clara na Bíblia que explica isso?
6.
Como um mandamento que é considerado um
"sinal perpétuo" pode mudar assim?
7.
Segundo Daniel, o maligno mudaria a lei? O que
se significa essa passagem?
Responderei as cinco primeiras
questões de uma vez, porque trata do mesmo tema: o dia do Senhor. Separadamente
a sexta e depois a sétima questão serão respondidas.
1- Resposta as primeiras cinco questões: Guardamos
o Domingo.
Em nossa época guardamos como
dia santificado o domingo, que é o primeiro dia da semana. O Manual Princípios do Evangelho explica
brevemente:
"Até a Ressurreição de Jesus Cristo, Ele e Seus
discípulos guardaram o sétimo dia como o dia santo. Após a Ressurreição, o
domingo passou a ser santificado e considerado o Dia do Senhor, em lembrança de
Sua Ressurreição naquele dia (ver Atos 20:7; I Coríntios 16:2). Daquela época
em diante, os seguidores de Jesus passaram a guardar o primeiro dia da semana
como o Dia do Senhor. Nos dois casos, havia seis dias de trabalho e um para
descanso e devoção. Em nossa época, o Senhor nos deu um mandamento direto de
que nós também precisamos honrar o domingo como o Dia do Senhor (ver D&C
59:12)." (capítulo 24, pg. 145-146)
O guia Sempre Fiéis também explica:
"O Dia do Senhor, o domingo, é dedicado
semanalmente para descanso e adoração. Na época do Velho Testamento, o povo do
convênio de Deus observava o Dia do Senhor no sétimo dia da semana, porque Deus
descansou no sétimo dia depois de criar a Terra. Após a Ressurreição de Jesus
Cristo, que ocorreu no primeiro dia da semana, os discípulos do Senhor
começaram a observar o Dia do Senhor no primeiro dia da semana, o domingo. (Ver
Atos 20:7.)" ("Dia do Senhor", pg. 56-57).
O Manual do Aluno do Seminário - Curso do Novo Testamento, ao
comentar Lucas 24:1, que fala da Ressurreição do Senhor do Primeiro dia da
Semana observa:
"O primeiro dia da semana no calendário judaico
era o domingo. Jesus ressuscitou nesse dia. Depois de Sua ascensão, os membros
da Igreja, tanto judeus quanto gentios, santificaram esse dia e o chamaram de o
Dia do Senhor. (Ver Atos 20:7; I Coríntios 16:2.)
O Presidente Brigham Young uma
vez declarou:
"É verdade que não guardo o Dia do Senhor da
maneira estabelecida pela lei mosaica, pois isso estaria quase além de minha
capacidade. Contudo, sob o novo convênio, devemos lembrar-nos de santificar um
dia da semana como o dia de descanso, em memória do descanso do Senhor e dos
santos, e também para nosso benefício temporal, pois foi instituído com o
propósito específico de favorecer o homem. Está escrito neste livro (a Bíblia)
que o sábado foi feito por causa do homem. É uma bênção para a humanidade.
Nesse dia devemos realizar a menor quantidade possível de trabalho; ele deve
ser separado como um dia de descanso, para que nos reunamos num local
determinado de acordo com a revelação [ver D&C 59:10–12], confessemos nossos
pecados, levemos nossos dízimos e ofertas e nos apresentemos diante do
Senhor." (Discursos de Brigham Young,
pg. 164).
"A Igreja
aceita o domingo como o dia de repouso e proclama a santidade desse dia.
Admitimos sem argumentar que, sob a lei mosaica, se havia designado e se
observava o sétimo dia como o dia santo, e que a mudança de sábado para domingo
foi uma particularidade da administração apostólica que se seguiu ao ministério
pessoal de Jesus Cristo. De maior importância que a designação deste ou daquele
dia da semana é a realidade do dia de repouso semanal que se deve observar como
dia de especial e particular devoção no serviço do Senhor. " (James E.
Talmage, Regras de Fé, pp. 405-406 .)
Assim, os santos dos últimos
dias, de modo geral, guardam como Sabbath, o primeiro Dia da Semana.
1.2 - A História do Dia do Senhor
Quando Deus criou a Terra, o fez
em seis períodos de tempo. No sétimo, "descansou de toda sua obra"
(Gênesis 2:2). "E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele
descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera" (Gênesis 2:3).
Assim, um dia da semana - o sétimo, tornou-se um da especial - reservado para o
descanso e adoração. Não sabemos a maneira como os patriarcas contavam o tempo
e qual era seu sistema de calendários. Não sabemos se eles dividiam o tempo
como os israelitas da época de Moisés. Para os israelitas antigos e os judeus
modernos o dia termina com o pôr-do-sol, por volta das 18h. Assim na sexta de
noite inicia-se o Dia do Descanso que dura até às 18 horas do sábado.
Para nós, o dia sagrado começa
após à meia-noite do sábado e termina à meia noite do domingo. Fazemos isso por
que nosso costume de contar o tempo não é mais como o dos judeus. Isso é
adequado, porque se esperássemos o pôr-do-sol, alguns só guardariam o dia do
Senhor após muito tempo - como por exemplo, os membros da Igreja que moram no
Alasca, onde o pôr-do-sol pode demorar cerca de setenta dias devido a rotação
da Terra e a posição longínqua deste lugar[1].
O fato é que Moisés, inspirado
pelo Senhor ordenou que o Dia do Senhor fosse santificado. De fato, Moisés recebeu
de Deus o mandamento de que o dia Santo fosse observado (Êxodo 20:8-10).
Entretanto, parece que o motivo pelo qual o Dia Sagrado devia ser observado
mudou. Alguns textos do pergaminho do mar morto demonstram que não houve ma
mudança substancia no propósito, mas uma adequação - um acréscimo. De qualquer
maneira lemos em Deuteronômios:
"O SENHOR nosso Deus fez
conosco aliança em Horebe. Não com nossos pais fez o SENHOR esta aliança, mas
conosco, todos os que hoje aqui estamos vivos. (...) Guarda o dia de sábado,
para o santificar, como te ordenou o SENHOR teu Deus. (...) Porque te lembrarás
que foste servo na terra do Egito, e que o SENHOR teu Deus te tirou dali com
mão forte e braço estendido; por isso o SENHOR teu Deus te ordenou que
guardasses o dia de sábado." (Deuteronômios 5:2-3, 12, 15).
Assim o dia do Senhor deveria
ser observado em lembrança da libertação de Israel da terra do Egito. Esse
mandamento foi incorporado á lei de Moisés, como também o ano sabático e o
sábado de quadragésimo novo e quinquagésimo anos.
Sabemos que o Sabbath era um dos
traços mas marcantes da antiga Israel. Os nefitas, do Livro de Mórmon,
guardavam o dia do Senhor no sábado: "esforçavam-se por guardar a lei de
Moisés e santificar o sábado do Senhor" (Jarom 1:5)
Quando a lei de Moisés foi
cumprida por Cristo, deixou de ser requerida do povo de Deus. O Apóstolo Paulo
explicou que a lei de Moisés serviu "de aio para nos conduzir a Cristo"
(Gálatas 3:24). Esse "aio" tornou-se desnecessário quando Cristo veio
e cumpriu a lei.
O Senhor Jesus Cristo percebeu,
enquanto na mortalidade, que o Sabbath havia sido corrompido. Os judeus haviam
criado uma série de regras absurdas - como a quantidade de passos que se
poderia dar no dia santo! Por essa razão ele disse: "E disse-lhes: O sábado
foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Assim o Filho
do homem até do sábado é Senhor" (Marcos 2:27-28). Como Senhor do sábado,
Ele tinha autoridade para concretizar qualquer mudança. Ele disse que não havia
vindo para "destruir a lei ou os profetas" - mas para cumprir (Mateus
5:17).
O Élder Le Grand Richards disse:
"Uma vez que Jesus veio
para cumprir a lei, por que então alguns procuram ainda retê-la? Por que não
preferem aceitar o que Jesus trouxe para tomar o lugar da lei, e que inclui o
novo sábado, o primeiro dia da semana, ou o dia do Senhor (domingo), dia em que
Jesus levantou da sepultura? "O dia do Senhor" é o dia que Ele
indicou aos santos desta dispensação para adoração." (Uma Obra Maravilhosa e um Assombro, "O Dia Santificado",
pg. 320)
Assim, o Senhor cumpriu a lei de
Moisés e com esse cumprimento o propósito de guardar o dia do Senhor para lembrar-se da libertação de Israel do
Egito tornou-se desnecessária. Todavia, por ordem expressa, a Igreja da
Antiguidade, continuou a guardar o dia do Senhor - como lembrança da libertação
da morte e do pecado - que Cristo proporcionara. O Salvador ergue-se da morte
no Primeiro Dia da Semana, e portanto, esse dia passou a ser considerado Santo.
1.2 - Fontes extra-escriturísticas.
Os
santos da Igreja primitiva, na época dos Apóstolos guardavam o dia Santificado
no domingo, como demosntram as citações abaixo:
Segundo
o historiador Geoffrey Blainey, "os judeus reverenciavam o sábado, e de
inicio, os cristãos fizeram o mesmo. São Paulo começou a instituir o domingo
como dia de reverência porque coincidia com a ressurreição de Cristo." (Uma breve História do Mundo, pg. 103).
“Reúnam-se no dia do Senhor [dominica dies em latim se traduz como domingo] para partir o pão e agradecer,
depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro”
(Didaqué 14,1 – texto datado do séc. I, mais precisamente no ano 96 dC).
“Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas
chegaram à nova esperança, e não observam
mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por
meio dele e da sua morte. Alguns negam isso, mas é por meio desse mistério que
recebemos a fé e no qual perseveramos para ser discípulos de Jesus Cristo,
nosso único Mestre. Como podemos viver sem aquele que até os profetas, seus
discípulos no espírito, esperavam como Mestre? Foi precisamente aquele que
justamente esperavam, que ao chegar, os ressuscitou dos mortos. Portanto, não
sejamos insensíveis à sua bondade. Se ele nos imitasse na maneira como agimos,
já não existiríamos. Contudo, tornando-nos seus discípulos, abraçamos a vida
segundo o cristianismo. Quem é chamado com o nome diferente desse, não é de
Deus. Jogai fora o mau fermento, velho e ácido, e transformai-vos no fermento
novo, que é Jesus Cristo. Deixai-vos salgar por ele, a fim de que nenhum de vós
se corrompa, pois é pelo odor que sereis julgados. É absurdo falar de Jesus
Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no
judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que
acredita em Deus” (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios. 101 d.C.,
de Santo Inácio, Bispo de Antioquia, que segundo a Tradição foi a criança que
Cristo pegou no colo em Mc 3:36.)
“Outros, de novo, certamente com
mais informação e maior veracidade, acreditam que o sol é nosso deus. Somos
confundidos com os persas, talvez, embora não adoremos o astro do dia pintado
numa peça de linho, tendo-o sempre em sua própria órbita. A idéia, não há
dúvidas, originou-se de nosso conhecido costume de nos virarmos para o nascente
em nossas preces. Mas, vós, muitos de vós, no propósito às vezes de adorar os
corpos celestes moveis vossos lábios em direção ao oriente. Da mesma maneira, se dedicamos o dia do sol para nossas
celebrações, é por uma razão muito diferente da dos adoradores do sol.
Temos alguma semelhança convosco que dedicais o dia de Saturno (Sábado) para
repouso e prazer, embora também estejais muito distantes dos costumes judeus,
os quais certamente ignorais” (Tertuliano 197 d.C. Apologia part.IV cap. 16,
itálicos adicionados). Esse é o testemunho do advogado cristão Tertuliano, que
escreveu muitas de suas obras destinadas as autoridades romanas em defesa dos
cristãos perseguidos. Em especial essa se refere a equivocada ideia de adoração
dos cristãos. Ela não demonstra que os cristãos haviam mudado o dia do
Santificado do sábado para o domingo devido a influência dos cultos pagãos. Tertuliano
se refere ao primeiro dia da semana como “o dia do sol” tão somente para que os
pagãos que o escutam ou lêem compreendam, ainda que superficialmente, o
significado de um dia separado, especial e sagrado como parte da adoração
cristã.
Do terceiro século temos o
testemunho de Hipólito de Roma, que também confirma a Tradição Apostólica de
celebrar o culto cristão no Domingo: “No domingo pela manhã, o bispo
distribuirá a comunhão, se puder, a todo o povo com as próprias mãos, cabendo
aos diáconos o partir do pão; os presbíteros também poderão parti-lo. Quando o
diácono apresentar a eucaristia ao presbítero, estenderá o vaso e o próprio
presbítero o tomará e distribuirá ao povo pessoalmente. Nos outros dias, os
fiéis receberão a eucaristia de acordo com as ordens do bispo” (Hipólito de
Roma 220 d.C Tradição Apostólica part III).
"É realmente verdade que a
vida de Constantino não foi a que exigiam os preceitos do cristianismo; e é
também verdade que ele permaneceu como catecúmeno (cristão não batizado)
durante toda a vida, e só foi considerado membro da Igreja, pelo batismo, em Nicomédia,
poucos dias antes de sua morte."
"Nota 25: (...) É certo que
Constantino, bem antes desse tempo, no ano de 324 A.D., se declarou cristão, e
foi reconhecido como tal pelas igrejas. Também é verdade, que ele realizou, por
muito tempo, os atos religiosos de um cristão não batizado, isto é de um
catecúmeno; posi assistia à adoração pública, jejuava, orava, observava o
sábado cristão e o aniversário dos mártires, as vigílias da Páscoa, etc. (História da Igreja de Mosheim, Livro 2,
século4, Parte 1, Cap. 1:8.)"
"(...) Os cristãos deste
século, com devoção, se reuniam para a adoração de Deus e para seu
aperfeiçoamento no primeiro dia da semana, o dia em que Cristo retomou a vida;
portanto temos irrefutável testemunho de que esse dia foi escolhido pelos próprios
apóstolos para adoração religiosa, e que, segundo o exemplo da igreja em
Jerusalém, era em geral observado. (História
da Igreja de Mosheim, Livro 1, Século 1, Parte 2, Cap. 4:4)
"Aqueles que eram criados
na antiga ordem das coisas tinham uma nova esperança, não mais observado o
sábado (judeu ou sétimo dia), apenas vivendo pela observância do dia do Senhor
(primeiro dia), no qual também nossa vida foi libertada por Ele e Sua morte. (Epístola aos Magnesianos, 101 A.D., Cap.
9. Inácio)"
"Em um dia, o primeiro dia
da semana, nós nos reunimos" (Barderaven, 130 A.D.)
"(...) E no dia que é
chamado domingo, há uma reunião no mesmo lugar, de todos os que vivem nas
cidades ou nos distritos rurais; e os registros dos apóstolos, ou os escritos
dos profetas, são lidos enquanto o tempo permite (...) Domingo é o dia em que
todos participamos de uma reunião comum porque é o primeiro dia em que Deus,
quando transformou as trevas e a matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso
Salvador, no menção dia levantou dos mortos (...) (Justino Martir, Apologias,
1:67, 140 A.D.)
"Ele, em cumprimento do
preceito de acordo com o evangelho, guarda o dia do Senhor." (Clemente de Alexandria, Livro 7, Cap.
12, 93 A.D.)
"Nós não concordamos com os
judeus em suas peculiaridades com respeito ao alimento nem com respeito a seus
dias sagrados." (Apologias, Sec.
21, 200 A.D.)
"Nós mesmos estamos
acostumados a guardar certos dias, como por exemplo, o dia do Senhor." (Orígenes, Livro 3, Cap. 23, 201 A.D.)
"Mas, por que, perguntas,
no dia do Senhor nos reunimos para celebrar as nossas solenidades? Porque
também era a maneira que os apóstolos fizeram." (De Fuga, XIV:ii, 141, 200 A.D.)
1.3 - Fontes Bíblicas
As passagens que são mais usadas
para demonstrar que houve uma mudança do dia do sábado para o domingo são, no
Novo Testamento, Atos 20:7 e I Coríntios 16:2.
Em Atos lemos: "E no
primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo,
que havia de partir no dia seguinte, falava com eles; e prolongou a prática até
à meia-noite." Essa escritura mostra que havia reuniões de adoração no
primeiro dia da semana - inclusive com a distribuição do sacramento. Em grego,
nessa passagem, "πρωτη ημερα της εβδομαδος", refere-se exatamente ao
primeiro dia da semana, ou o domingo.
Em Coríntios, que foi escrito
muitos anos antes de Atos (e também dos evangelhos) lemos: "No primeiro
dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua
prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar." Paulo esta
falando da coleta de ofertas que deveria ser feita em Jerusalém. Na língua
original do novo testamento, o grego, novamente há inequívoca referência ao
domingo.
Quando os judeus se convertiam
ao cristianismo, deixavam muitos costumes e práticas de lado. Portanto, para
eles não era estranho passar a guardar um novo dia na semana como dia sagrado.
Eles sabiam que Cristo havia trazido um novo convênio. De fato, Paulo explica
isso ao referir-se a instituição do sacramento (que segundo a passagem de Atos
20:7 e I Coríntios 16:2, era distribuído no Primeiro Dia da semana): "Semelhantemente
também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei
isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim." Paulo também explicou
que Cristo os fizeram "capazes de ser ministros de um novo testamento, não
da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica." (2
Coríntios 2:3) Essa passagem, muito famosa, que diz que "a letra mata e o
espírito vivifica", foi direcionada aos membros novos da Igreja que ainda
não haviam deixado algumas tradições religiosas de lado. "O batismo não
faz automaticamente com que os recém-conversos se esqueçam dos ensinamentos e
práticas falsas que seguiam anteriormente. Os santos de coríntios não eram
exceção. Em II Coríntios 1–3 você lerá como foi preciso lembrar-lhes os
princípios básicos do evangelho que são essenciais a nosso bem-estar." (Manual do Aluno do Seminário - Novo
Testamento, pg. 126)
O apóstolo Paulo sabia que os
santos conversos seriam criticados pela mudança do sábado, por isso disse:
"Portanto, ninguém vos
julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua
nova, ou dos sábados" (Colossenses 2:16).
Depois de citar essa passagem o
Élder Le Grand Richards disse: "Essa advertência do apóstolo Paulo teria
sido completamente inútil, estivessem os santos adorando no sábado judeu, pois
os judeus então não teriam tido ocasião de julgá-los sobre o assunto"
("O dia Santificado", Uma Obra
Maravilhosa e Um Assombro, pg. 321).
Há uma passagem no velho
testamento que profetiza o fim dos sábados de Israel. É pouco conhecida, e
portanto pouco citada. Porém, é muito reveladora: "E farei cessar todo o
seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as
suas festividades" (Oséias 2:11). "Podemos aceitar as escrituras como
a palavra de Deus e duvidar que essa profecia de Oséias seria cumprida e que o
Senhor faria realmente cessar os sábados de Israel? Quando a profecia de Oséias
foi cumprida, o caminho estava obviamente aberto para a introdução de um novo
sábado." ("O dia Santificado", Uma Obra Maravilhosa e Um Assombro, pg. 319).
Na bíblia grega original o
primeiro dia da semana é chamado de sábado oito vezes. Por que o primeiro dia
da semana (domingo) seria chamado de sábado na Bíblia, se não fosse um novo sábado? Isso é algo para se
refletir. Os primeiros cristãos sabiam que o dia do descanso (sabbath) convertera-se no Dia do Senhor
(domingo, um novo sabbath), como
demonstrei acima.
1.4 - Um dia conforme divinamente
estabelecido.
A mudança do sétimo dia para o
primeiro foi determinada por revelação. Não poderia ser de outra maneira. Nós
guardamos o domingo por Deus expressamente
assim nos ordenou: "E para que mais plenamente te conserves limpo das
manchas do mundo, irás à casa de oração e oferecerás teus sacramentos no meu
dia santificado; Porque em verdade este é um dia designado para descansares de
teus labores e prestares tua devoção ao Altíssimo; Contudo teus votos serão
oferecidos em retidão todos os dias e em todos os momentos; Lembra-te, porém,
de que no dia do Senhor oferecerás tuas oblações e teus sacramentos ao
Altíssimo, confessando teus pecados a teus irmãos e perante o Senhor."
(D&C 59:9-12)
2. Sinal Perpétuo.
A questão sobre o dia do Senhor
ser um sinal perpétuo é a base para que muitos afirmem que o dia do Senhor deve
continuar a ser observado no sábado. Deus é um ser imutável e expressamente
disse que entre Ele e "os filhos de Israel será [o Dia do Descanso] um
sinal para sempre; porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, e ao
sétimo dia descansou, e restaurou-se." (Êxodo 31:17)
Essa questão porém só pode ser
adequadamente respondia se compreendermos o correto sentido da palavra
"perpétuo".
Os que defendem que perpétuo além de expressar continuidade,
deduz também inalterabilidade total, precisam estar prontos para aceitar que os
mesmos mandamentos dados na antiguidade são plenamente válidos hoje. Isso em
absoluto não é verdadeiro. A lei de Moisés já foi cumprida, como demonstramos.
Quanto a lei da circuncisão foi
dito: "Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado
por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua."
(Gênesis 17:13). A lei da circuncisão é cumprida hoje pelas Igrejas cristãs? A
grande maioria entende que esse mandamento também deixou de ser requerido no
meridiano dos tempos - como aprendemos ao estudar Atos dos Apóstolos.
Assim substancialmente o dia do
Senhor não mudou. Seu princípio é tão eterno quanto o próprio Deus. Essa lei
precisa e sempre precisará ser
cumprida. Aspectos não essenciais, como qual o dia, podem, e de fato são,
alterados, de acordo com a sabedoria de Deus.
Hoje em dia, o Domingo continua
a ser um sinal distinto do povo do Senhor. É um sinal eterno. Esse próprio
conceito de eternidade extrapola os limites temporais que estamos submetidos -
dias, semanas, meses e anos.
3. O significado de Daniel 7:25
"E proferirá palavras
contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os
tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão, por um tempo, e tempos, e a
metade de um tempo." (Daniel 7:25)
Essa passagem esta no contexto
de uma visão de Daniel sobre o futuro. Especificamente refere-se ao poder de
Satanás e de seus servos nos últimos dias. O "anticristo" é o símbolo
do poder maligno que se levantará antes da era milenar. Esse anticristo proferirá
blasfêmias contra o Altíssimo. Ele também se empenhará em mudar "os tempos
e a lei" nos últimos dias. E isso tem acontecido. Satanás muda os
mandamentos e princípios de maneira substancial, fazendo com que rebeldia,
incredulidade, ceticismo, fanatismo e ateísmo alavanquem.
A expressão "por um tempo e
tempos e metade de um tempo" também é mencionada por João em Apocalipse
(Apocalipse 12:14). Não sei se os dois profetas falavam sobre o mesmo assunto.
Aparentemente sim, porque tanto João quanto Daniel tiveram uma visão sobre os
últimos dias. Ocasionalmente pessoas de diversas formações religiosas pensam
ter encontrado a chave de interpretação desses versículos (Apocalipse 12:14) e
fazem cálculos para prever acontecimentos catastróficos no futuro ou mesmo a
Segunda Vinda de Cristo. Não arriscaremos qualquer interpretação por que o
Senhor, em sua sabedoria, não deu a plena compreensão dessa passagem. É vão
especular e concluir que a expressão referida coincida com alguma data, evento
ou represente algum assunto do evangelho.
Não há nenhuma indicação de que Daniel
esteja se referindo a mudança ocorrida no meridiano dos tempos - de que o dia do
Senhor passaria a ser guardado no domingo, e não mais no sábado. Como dito, a visão
de Daniel aponta para os últimos dias e não para a época em que a Igreja Primitiva
adotou o novo dia sob impulso divino.
[1] Se
os membros da Igreja esperassem até o sétimo pôr-do-sol neste caso aguardariam
meses e meses e passariam também meses cumprindo o mandamento do dia do Senhor
- o que significa que não trabalhariam, não fariam compras, não caçariam, não
iriam estudar... Isso seria uma tragédia econômica que poderia lhes tirar a
vida. Evidentemente nem os judeus mais ortodoxos e os adventistas do sétimo dia
mais fiéis exigem que se faça tal loucura. Independentemente dos fenômenos
metrológicos, a contagem do tempo permanece ininterrupta - e após 144 horas
(seis dias), há um espaço de 24 horas reservadas para o dia santificado.
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