Há um texto, muito divulgado entre os missionários, chamado "Os blocos de Fundação do Universo" escrito por Cleon W. Skousen. Uma versão, traduzida e divulgada na internet, foi feita por um certo Amoramon. O texto ousa explicar sobre as Inteligência, a pré-mortalidade, a origem dos deuses, o destino eterno e, principalmente, o sacrifício expiatório de Jesus Cristo. Estudei minuciosamente o texto. Reconheci que muitas das coisas tratadas ali são verdades, mas que há outras que são mentiras. Provarei que o texto não é verdadeiro com as escrituras sagradas e a declaração dos profetas modernos. Faço isso com todo respeito que os irmãos que o pronunciaram e defenderam merecem.
Primeiro erro: Satanás e os que forem destinados as trevas exteriores irão perder seus corpos espírituais. Na minha opinião isso não é verdade. Não é o que lemos nas escrituras e nem nas citações dos profetas. Lemos que a Expiação de Cristo proporcionará um corpo ressurreto para todos os que viveram na mortalidade - e isso inclui os que se tornaram filhos da Perdição neste Estado (Alma 11:41 e D&C76:42-48). Esse corpo (obtido NESTE estado) nunca mais morrerá, após a ressurreição (Ama 12:16-18).
Caim, que foi chamado Perdição, terá um corpo ressurreto. O irmão Skousen diz que Satanás perderá seu espírito e os filhos da perdição que tem um corpo (como Caim) perderão o corpo e o espírito. Ou seja, eles serão desintegrados e voltarão a ser meras inteligências - sem possibilidade alguma de progresso.
Quando o Senhor Jesus Cristo revelou "a Visão" de D&C 76, falou sobre o destino dos filhos da Perdição: "Estes são os que irão para o lago de fogo e enxofre", e "os únicos sobre quem a segunda morte terá qualquer poder (...) os únicos que não serão redimidos no devido tempo do Senhor depois de terem sofrido sua ira [na provação, que é tanto a mortalidade e quanto o mundo espiritual]". Disse também que Cristo salvaria todos as obras de suas mãos, "exceto esses, os quais irão para o castigo infinito, que é castigo sem fim, que é castigo eterno, para reinar com o diabo e seus anjos na eternidade, onde seu bicho não morre e o fogo é inextinguível, o que é seu tormento - E homem algum conhece o seu fim nem seu lugar nem seu tormento; Nem foi revelado nem é nem será revelado ao homem, exceto àqueles que dele forem feitos participantes; Contudo eu, o Senhor, mostro-o em visão a muitos, mas imediatamente torno a encerrá-la; Portanto seu fim, sua largura, altura, profundidade e miséria eles não compreendem, nem homem algum, a não ser os que são ordenados a essa condenação." (D&C 76:36-38, 43-48)
A segunda morte é a morte espiritual. No GEE aprendemos que morte espiritual é a "separação de Deus e de sua influência; morrer no tocante às coisas que pertencem à retidão" (GEE"Morte Espiritual"). Não significa, portanto, desaparecer espiritualmente ou ter o corpo espiritual destruído. Como o próprio Deus disse "nenhum homem" na mortalidade compreende no que consiste o sofrimento dos filhos da perdição. E mesmo que o Senhor tenha mostrado ao irmão Skousen, creio que ele não foi capaz de transmitir esse sofrimento adequadamente.
Outro ponto importante é que mesmo Satanás sendo condenado para as trevas ele ainda continuará sendo o diabo. O que significa que sua identidade e personalidade continuará existindo no sofrimento eterno. "O ser" de Satanás comporta sua inteligência eterna e seu corpo de espírito. Ele não será despojado do espírito, senão, parte inerente de sua personalidade seria despojada também. Ele perderia sua identidade. Perdendo a identidade não há razão para que a Justiça Divina requeira um sofrimento eterno na Trevas, afinal se ele não mais existe não há como se falar em castigo eterno ou punição infinita.
O mesmo vale aos que, por terem nascido na mortalidade, receberam um corpo imortal, após ressuscitarem. Mesmo que sua condenação seja a de ir às Trevas, eles manterão sua alma (corpo+espírito), e sofrerão tanto na corpo como no espírito (semelhante ao Salvador, D&C 19:18, pois Cristo sofreu como um filho da Perdição. Seu sofrimento abrangeu a morte física e espiritual).
Quando Leí diz que Lamã e Lemuel poderiam, caso fossem para as trevas exteriores, sofrer uma destruição na alma e no corpo, não esta necessariamente dizendo que eles seriam desintegrados ou aniquilados - que a inteligência iria para as trevas e que o elemento espiritual ou ressurreto receberia um destino devido, unindo-se a alguma esfera ou corpo. Assim como morte espiritual significa ser afastado de Deus (e não subitamente ter o corpo desconstituído); ser destruído na alma e no corpo - deduz tão somente que a punição será de morte física e espiritual.
Algumas bênçãos são irrevogáveis e não-anuláveis. É o caso, por exemplo, do sacerdócio. Uma vez concedido o sacerdócio não pode ser retirado (D&C 84:40). Satanás recebeu o sacerdócio quando era Lúcifer na pré-mortalidade, e ainda o porta. Quando a escritura diz, "amém para o sacerdócio desse homem", esta se referindo ao bloqueio do poder por falta da retidão. Por exemplo: se um portador do sacerdócio de Melquisedeque for excomungado, não poderá exercer o sacerdócio, mas ainda o portará. Se se arrepender, terá uma bênção de reconstituição, uma bênção que lhe dará direito de agir no poder que lhe fora tirado. Essa bênção não lhe dá de novo o sacerdócio, apenas o torna operante. Evidentemente o inimigo de toda retidão não usa o sacerdócio de Deus, mas o exemplo serve para deixar claro que certas bênçãos que fazemos jus não nos podem ser negadas (D&C 82:10). O acréscimo pré-mortal não pode ser retirado (Abraão 3:26)
Quando a escritura diz que aquele que não tem, não faz bom uso dos dons que recebeu, os perde - e até aquilo que tinha é-lhe tirado (Lucas 8:18) - não tem relação alguma com o que estamos dizendo. Essas escrituras falam da lei da compensação e justiça. Se alguém faz o bem, depois o mal, merecerá as bênçãos das boas obras, mas não as receberá, visto que as obras más sobrepujaram as boas - e o que lhe resta é um estado pior do que o anterior (Alma 24:30, II Pedro 2:20). A quem muito é dado muito é exigido, e o que peca contra a luz maior recebe condenação proporcional (Lucas 12:48, D&C 82:3).
As seguintes declarações reforçam e esclarecem estes meus pensamentos:
O presidente Brigham Young disse: "Não existe o que chamamos de extermínio, pois não podeis destruir os elementos de que são constituídas a coisas." (Discursos, "Julgamento Eterno", pg. 387)
O Presidente Joseph F. Smith, sexto presidente da Igreja, disse que aqueles que sofrerem a morte espiritual irão permanecer "para sempre presos às correntes da escuridão espiritual, e banidos de sua presença, reino e glória. A 'morte temporal' é uma coisa, e a 'morte espiritual' é outra. O corpo pode dissolver e extinguir-se como organismo, embora os elementos que o compõem sejam indestrutíveis ou eternos; contudo, afirmo, como sendo evidente: que o organismo espiritual é um ser eterno, imortal, destinado a desfrutar da plenitude da felicidade eterna e da plenitude da alegria, ou sofrer a ira de Deus, e a miséria - uma condenação justa, eterna. Adão morreu espiritualmente; entretanto viveu para suportar seu castigo, até poder libertar-se dele pelo poder da Expiação, através do arrependimento. Aqueles a quem a segunda morte for pronunciada viverão para sofrê-la e aturá-la, mas sem esperança de redenção." (Doutrina do Evangelho, "A Natureza Eterna da Igreja, do sacerdócio e do homem", pg. 15)
O Presidente Joseph Fielding Smith disse: "Ao falarmos de segunda morte como morte eterna, não queremos dizer que aqueles que dela participam são sentenciados eternamente à dissolução do corpo e também do espírito. O espírito do homem é eterno e não pode morrer no sentido de deixar de existir."
(...)
"Ninguém jamais saberá a extensão desse castigo, exceto os que dele forem feitos participantes. Que é a mais severa punição que pode ser imposta ao homem, é evidente. Trevas exteriores é algo indescritível; sabemos apenas que significa ser colocado além da benigna e confortadora influência do Espírito de Deus - completamente banidos de sua presença."
(...)
"Aprendemos pelas escrituras que "esta restauração virá a todos, (...) sejam bons ou maus; e não se perderá nenhum só cabelo de suas cabeças". Porém os "perversos permanecerão como se não tivesse havido redenção, sendo-lhe apenas afrouxadas as cadeias da morte; pois dia virá em que todos se levantarão da morte e se apresentarão perante Deus, que os julgará segundo suas obras"
"Esta segunda morte, portanto, não é a dissolução ou aniquilamento tanto do espírito como do corpo, mas o banimento da presença de Deus e de participar das coisas da retidão."
(...)
"Esse fogo e enxofre, somos informados, é um símbolo do tormento a ser suportado pelos iníquos . Não é um fogo real, mas um tormento mental; em outras palavras é a punição descrita pelo Salvador como bicho que não morre e o fogo que nunca se apaga, e serão para todo sempre."
(Doutrinas de Salvação, "Vida e Morte Espiritual", pg. 215-229)
Segundo erro: Quando éramos inteligências estávamos nas trevas exteriores. Não há escritura que diga isso. Todavia não excluo a possibilidade de que estivéssemos num lugar caótico, fora do espaço, como Skousen insiste. Mas Satanás e suas hostes irão para um lugar onde jamais estiveram antes. Afinal, nós só poderíamos estar em trevas se tivéssemos cometido o pecado imperdoável (D&C 76:35). Sem ter tido luz para fazê-lo não há como pensar que o lugar que nos encontrávamos antes de nascermos nos céus seja o mesmo lugar em que Satanás irá reinar em condenação eterna. Isso é um absurdo!
Além disso, as trevas exteriores é um lugar que ninguém conhece, a não ser os que dela são feitos participantes (D&C 76:46-48).
Terceiro erro: Jesus Cristo criou nosso espírito. Aprendemos por revelação moderna que Deus é literalmente o pai de nosso tabernáculo espiritual. E que além disso, foi Eloim que tomou a frente da criação do corpo de Adão e Eva, e o fez a imagem e semelhança de seu Filho Primogênito. Não é necessário colocar referencias de escrituras sobre esse tema, visto que a doutrina é muito clara na declaração "Família: proclamação ao mundo", nos ensinamentos de Joseph Smith, nos primeiros capítulos de Moisés e nos últimos de Abraão, além, é claro, da doutrina que aprendemos no Templo.
Quarto erro: Lúcifer se apresentou antes de Cristo. Claramente falso. Esta bem claro em Abraão: "E o Senhor disse: Quem enviarei? E um semelhante ao Filho do Homem respondeu: Eis-me aqui, envia-me. E outro respondeu e disse: Eis-me aqui, envia-me. E o Senhor disse: Enviarei o primeiro." (Abraão 3:27). O primeiro a se pronunciar foi Jeová.
Quinto erro: o poder de Deus depende da obediência e seus filhos. É verdade que Deus cresce em glória (Moisés 1:39). Mas ele pode fazer isso independentemente da exaltação de seus filhos. Ele pode glorificar todas as outras criações, ao invés de depender da exaltação de cada filho. Quem melhor expressou isso foi o presidente Brigham Young:
"O Senhor é perfeitamente independente. Ele recebeu sua glória e reina de modo supremo e onipotente. O Senhor não depende de vós ou de mim. Se todos nós apostatássemos e fôssemos para o inferno, tal fato em nada acrescentaria ou diminuiria sua glória. Ele deploraria a tolice que fizemos em nos desviar dos santos mandamentos e permitir que a ira do todo poderoso recaísse sobre nós. Os céus chorariam por nossa causa, mas ainda assim o Senhor possuiria sua glória, e não estaríamos trabalhando em seu beneficio. Em beneficio de quem estamos trabalhando? De nós mesmos." (Discursos, "Deidade", pg. 23)
Possivelmente há mais erros e falsas implicações nestes texto. Mas o que apresentei basta para descaracterizar a veracidade do discurso. É falso!
Texto sobre os blocos de fundação do universo: http://www.reocities.com/amoramonsud/blocosedfuniverso.html
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