6 de nov. de 2012

Classificação dos Mandamentos


                Os princípios eternos são baseados na verdade e justiça - e não mudam. Os mandamentos de Deus são leis alicerçadas na verdade e justiça, que são proferidas por Deus à nós. Embora o evangelho seja simples, e não necessite de muitas sistematizações e nomenclaturas, às vezes é proveitoso dividir e subdividir ideias, sem fugir da pureza da verdade - para compreender pontos doutrinários novos. É o caso dos mandamentos.

                Há basicamente duas espécies de leis de Deus: os mandamento e regras universais[1]. Todas as leis de Deus provém da mesma fonte (Deus) e resultam em bênção ou maldição: aqueles que as obedecem são abençoados, e os que as desobedecem são amaldiçoados. As espécies de leis, contudo, diferem quanto ao destinatário. Os mandamentos são dados aos filhos de Deus  - que possuem capacidade de tornarem-se como Ele. As regras universais são dadas a todas as inteligências, estipulando proibições, permissões, direitos, deveres, limites, etc.
                Deve-se dizer que os filhos de Deus estão sujeitos as regras universais assim como toda a Criação. Mas as criações que não são filhos de Deus não se sujeitam aos mandamentos - pois tais são reservados aos que agem e possuem capacidade de tornarem-se como Deus.
                Os mandamentos podem ser classificados: (1) quanto a temporariedade: infinitos ou finitos; (2) quanto ao alcance: individuais (também chamados de "conselhos de Deus") ou universais (gerais); (3) quanto a adequação: aparentemente inadequados ou aparentemente adequados; (4) quanto a regulamentação: sem regulamentação (princípio em sentido estrito), com regulamentação densa ou com regulamentação não densa; (5) quanto ao modo de ser revelado: pela Luz de Cristo, pelo poder do Espírito Santo ou pelo dom e poder do Espírito Santo.

                Mandamentos quanto a temporariedade. Alguns mandamentos são restritos a determinada época: como os preceitos, regras e ritos da Lei de Moisés. A palavra de Sabedoria, tal como conhecemos hoje, é um exemplo de mandamento finito também, pois não existia antes da revelação da seção 89 (concedida em 27 de fevereiro de 1833). É verdade que os princípios eternos por trás da Palavra de Sabedoria sempre existiram: manter o corpo puro, limpo e saudável, e obedecer a Deus. Entretanto, não tomar café, chá-preto, álcool, usar tabaco e drogas é uma mandamento dado especificamente em nossa dispensação "devido a maldades e desígnios que existem e virão a existir no coração de homens conspiradores nos últimos dias" (D&C 89:4). Um exemplo de mandamento infinito é a Lei de Castidade - que sempre existiu e sempre há de existir.

                Mandamentos quanto ao alcance.  Os mandamentos pessoais ou individuais são também chamados de conselhos de Deus. Os conselhos do Senhor são mandamentos, diferente do que muitos pensam - porque alguns hierarquizaram as leis de Deus determinando que os conselhos possuem menor importância que os mandamentos gerais. Todavia, se os mandamentos individuais forem aplicados levarão a salvação (D&C 78:2).
                Creio que o Senhor utiliza a palavra conselho (1) para demonstrar o respeito que tem pelo nosso arbítrio - escolhemos cumprir ou não o mandamento; e (2) para tornar o mandamento pessoal e individual. Assim podemos explicar e reconhecer que, frequentemente, Deus dá alguns conselhos a uns que não dá a outros, e vice-versa, pois as circunstâncias e capacidades são distintas. Exemplos de mandamentos individuais são aqueles dados na bênção patriarcal ou de maneira especifica pelo líder da Igreja: visitar determinada família todo mês.
                Os mandamentos universais possuem vinculação erma omenes, ou seja, geral, para todos: como o de não matar, o de fornicar, o de ser batizado, etc.

                Mandamentos quanto a adequação. Essa não seria propriamente uma divisão do instituto, mas a sua indicação facilita a compreensão dos mandamentos - portanto cito-o. Todos os mandamentos são adequados, por que Deus é justo e bom. Não obstante, nem sempre assim parecem aos destinatários dos mesmos. Quando Néfi recebeu o mandamento de matar Labão, isso lhe pareceu estranho (1 Néfi 4:10). Alguns mandamentos nos soam muito lógicos e prudentes - como o de ajudar o próximo - mas outros podem ser considerados amorais - como Abraão, ao receber o mandamento de sacrificar seu filho Isaque. A única maneira de reconhecermos o mandamento divino, ainda que nos pareça inadequado, é possuir o dom do Espírito Santo e ser digno de desfrutá-lo.
               
                Mandamentos quanto a regulamentação. Os mandamentos são puros e simples. Todavia, às vezes precisam de regulamentações para serem cumpridos. Essas regras não são os mandamentos. Alguns mandamentos precisam ser densamente regulados, como no caso da Lei de Moisés - que tinha regras especificas e detalhadas sobre como preparar alimentos, com o se vestir e como comemorar as festas. Alguns mandamentos não precisam de regulamentação porque os destinatários do mesmo são capazes, devido ao grau de retidão, compreendê-los com facilidade como no caso de orar sempre (embora, aos iniciante seja adequado ensinar "os passos da oração", e aos que se consideram mais experientes, lembrar a respeito "da linguagem especial da oração"). Há mandamentos que precisam de pequenas e pontuais regras. O jejum, como praticado hoje é um exemplo. Jejua-se todo primeiro domingo do mês (embora se possa jejuar em outra data também, se necessário), paga-se a oferta generosa de jejum em um formulário padronizado ou em um envelope a ser recolhido por um portador do sacerdócio Aarônico.  Essas pequenas regras, algumas já incorporadas aos costumes dos santos são necessárias para manter a Casa de Deus em ordem. E sobre esse aspecto podemos citar uma série de procedimentos administrativos que não são mandamentos, mas se baseiam nos mesmos - e até ajudam-nos em seu cumprimento. Também podemos achar uma relação aqui com as ordenanças do evangelho - que são mandamentos e convênios ritualísticos.

                Mandamentos quanto ao modo de ser revelado. Alguns mandamentos são revelados pela Luz de Cristo - com o de não matar. O rei Lamôni é um exemplo. Ele sábia, pela luz de Cristo, que o costume dos lamanitas de matar era errado (embora sua tradição lhe dissesse que não havia pecado) - e começou a se sentir mal pelos erros que já cometera (Alma 18:5). Outros mandamentos chegam pelo poder do Espírito Santo - como o de procurar a verdade, como Cornélio no Novo Testamento. Os que recebem o dom do Espírito Santo podem desfrutar constantemente do poder do Espírito Santo e recebem "todos os mandamentos" (2 Néfi 9:27).

               



[1] Nada haveria de errado de chamar as "regras universais" de mandamentos, e vice-versa. Entretanto, para distinguir a função de cada espécie do gênero lei divina, sugeri a nomenclatura.

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