Qual
o significado do conselho do Senhor "granjeai amigos com as riquezas da
injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos
tabernáculos eternos"? (Lucas 16:9) E também: "granjeai amigos com as
riquezas da injustiça e eles não vos destruirão"? (D&C 82:22)
A passagem de Lucas 16 conta a parábola
do Mordomo Infiel. Um homem rico recebeu a acusação de que seu mordomo estivera
dissipando seus bens. O homem rico demitiu por justa causa seu servo. Nesse
momento ocorreu ao mordomo que para subsistir sem seu trabalho, precisaria de
amigos - por isso amortizou a dívida dos devedores de seu senhor. "E
louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente"(Lucas
16:8). O homem rico ficou satisfeito, talvez nem tanto pela misericórdia de seu
mordomo infiel, mas por ter ele achado um meio de fazer com que os inadimplentes
pagassem seus débitos. A história não informa, mas a atitude ultima do mordomo
deve ter feito com que "cada um dos devedores do seu senhor" (Lucas
16:5) - que não deviam ser poucos - honrassem seus compromissos - ainda que não
de maneira completa, mas de maneira suficiente e justa - de tal forma que
credor e devedor ficassem completamente satisfeitos. Por ter promovido essas
negociações e mediações com tal primor, esse mordomo talvez pudesse ser
considerado o pai das empresas de cobrança! Não nos é dito se o mordomo
recuperou seu emprego. Mas a parábola, conforme registrada, perfeitamente culmina
na seguintes lições:
(1) "Os filhos deste mundo
são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz" (Lucas 16:8);
(2) "Granjeai amigos com as
riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles
nos tabernáculos eternos" (Lucas 16:9);
(3)"Quem é fiel no mínimo,
também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois,
se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E,
se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?" (Lucas
16:10-12).
Em Doutrina e Convênios 82,
Joseph Smith recebeu uma revelação - datada de 26 de abril de 1832 - onde o
Senhor explica princípios semelhantes aos que são explicados em Lucas 16. A
Igreja era nova. Havia surgido intrigas entre alguns irmãos - inclusive que
serviam como líderes. Essa revelação foi recebida na ocasião em que o Profeta
foi apoiado como Sumo Sacerdote Presidente (ver cabeçalho da seção 82). O
Senhor ensinou vários princípios importantes, eis alguns:
(1) "A quem muito é dado,
muito é exigido; e o que pecar contra a luz maior receberá a condenação
maior" (D&C 82:3)
(2) "Eu, o Senhor, estou obrigado
quando fazeis o que eu digo; mas quando não o fazeis, não tendes promessa
alguma." (D&C 82:10)
(3) "E agora, em verdade
vos digo e nisto há sabedoria: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça e
eles não vos destruirão. Deixai o julgamento somente para mim, porque ele é meu
e eu recompensarei." (D&C 22:-23)
É interessante estudar Lucas 16
antes de D&C 82. Entendemos muito melhor o que o Senhor quis dizer na
Revelação Moderna. O Senhor é o homem rico. Realmente ele tem muitos devedores
- porque todos somos "eternos devedores" Dele (Mosias 2:21-25,
4:16-20). Ele chamou alguns como seus mordomos. Foi dado muito a esses servos.
E a quem muito é dado muito é exigido. Se até aqueles que são "filhos
deste mundo" são sábios - a ponto de agradarem a seu senhor e conseguirem benefícios
com seus semelhantes - os filhos da luz deveriam também agradar a Seu Deus e
cultivar amizade com todos.
O Manual do Aluno do Seminário do Curso do Novo Testamento explica
sobre Lucas 16:1-15: "Jesus não estava dizendo que devemos ser desonestos
como aquele mordomo. Em vez disso, Ele ensinou que até um homem cuja vida
esteja centralizada no dinheiro sabe como planejar para o futuro. Quão mais
aqueles que compreendem as coisas de Deus deveriam planejar para o futuro: para
a vida futura. Os gananciosos fariseus fingiam ser seguidores de Deus, no
entanto tinham mais interesse em conseguir as coisas que o mundo oferecia."(pg.
67)
O Manual do Aluno do Instituto do
Curso de Doutrina e Convênios explica sobre D&C 82:22: "O mandamento
do Senhor, de que os santos deviam 'granjear amigos com as riquezas da
injustiça', parece uma exigência difícil, se não for bem compreendida. Ao dizer
que os santos deviam fazer amizade com 'as riquezas da injustiça', o Senhor não
pretendia que os irmãos compartilhassem de seus pecados; que os aceitassem em
seu meio e contraíssem casamento com eles, ou se rebaixasse a seu nível de
qualquer outra forma. Eles deviam viver lado a lado, de tal maneira, que
pudessem coexistir em paz com seus inimigos. Era mister que os tratassem gentilmente,
que fossem amigáveis com eles até o ponto em que permitissem os princípios da
decência e da virtude, porém jamais deveriam chegar ao ponto de usar de sua linguagem
vulgar, de beber ou se degradar com eles. Se pudessem controlar os preconceitos
e se mostrar dispostos a negociar com eles, evidenciando um espírito de
cordialidade, isso muito contribuiria para diminuir o rancor que sentiam. O
julgamento deveria ser deixado a cargo do Senhor." (178)
Esse mesmo manual explica
também: "Numa parábola que muitas pessoas consideraram inquietante, o
Salvador questionou a prudência de um mordomo que se preparou para o futuro
enganando seu senhor (ver Lucas 16:1-8). O Salvador afirmou: "Os filhos
deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz (...)
Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?"
(Lucas 16:8, 11.) O Élder James E. Talmage explicou a lição ensinada por Jesus
e o relacionamento que ela tem com as mordomias terrenas: "O propósito de
nosso Senhor era mostrar o contraste entre o cuidado, consideração e
devotamento de homens ocupados em afazeres terrenos lucrativos, e o pouco
entusiasmo de muitos que afirmam estar buscando as riquezas espirituais. Homens
preocupados com as coisas do mundo não negligenciam as provisões para futuro, e
frequentemente se esforçam, de maneira pecaminosa, para acumular abundância,
enquanto os 'filhos da luz', ou aqueles que acreditam que a riqueza espiritual
está acima de todas as possessões mundanas, são menos vigorosos, prudentes ou
sábios. Por 'riquezas da injustiça', ou 'mamon da iniquidade', como aparece na
versão inglesa, podemos entender riquezas e coisas mundanas. Embora muito
inferior aos tesouros do céu, o dinheiro, ou o que ele representa, pode ser o
meio de realizar o bem, e de ajudar a cumprir os propósitos de Deus. O conselho
de nosso Senhor foi utilizar 'mamon' em boas obras, enquanto ele durar, pois um
dia poderá faltar, e somente os resultados alcançados pelo seu uso perdurarão.
Se o administrador iníquo, quando expulso da casa do patrão por desonestidade,
pode esperar ser recebido nos lares daqueles a quem favoreceu, quão mais confiantemente
aqueles que se dedicam genuinamente ao bem podem esperar ser recebidos nas
mansões eternas de Deus! Isso parece ser parte da lição.
"Não foi a desonestidade do
administrador que a lição exaltou; entretanto, sua prudência e previsão foram elogiadas
(...) A lição pode ser resumida desta forma: Faça uso de sua riqueza para
garantir amigos no futuro. Seja diligente, pois o dia em que pode fazer uso de
suas riquezas terrenas logo passará. Aprenda até mesmo com os desonestos e com
os iníquos. Se eles são tão prudentes, de modo que armazenam provisões para o único
futuro de que cogitam, quanto mais vós, que acreditais em um futuro eterno,
deveis armazenar provisões para esse futuro." (Jesus, o Cristo, pp. 447-448.)
(pg. 152)
Granjear amigos com as riquezas
da injustiça esta muito bem explicado nas citações acima. Mas porque, se
fizermos isso, seremos recebidos por eles
nos tabernáculo eternos? Simplesmente significa que quando as riquezas matérias
findarem, seremos recebidos nos céus - por termos agido bem com aqueles que
estão ao nosso redor - muitos dos quais, inclusive, não apreciam nossa fé. E ainda
nos surpreenderemos por perceber que aqueles que não aceitaram nossa religião
estarão lá, nos paraíso, recebendo-nos. Porque, a eles não muito foi dado e,
portanto, não muito foi cobrado - sim, viveram segundo a luz que possuíam - e
por isso merecem uma recompensa nos tabernáculos eternos. E ao receberem todas
as ordenanças na Casa de Deus, serão salvos no Reino Celestial (D&C
137:7-10).
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