6 de mar. de 2013

Granjeai amigos com as riquezas da injustiça


                Qual o significado do conselho do Senhor "granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos"? (Lucas 16:9) E também: "granjeai amigos com as riquezas da injustiça e eles não vos destruirão"? (D&C 82:22)

                A passagem de Lucas 16 conta a parábola do Mordomo Infiel. Um homem rico recebeu a acusação de que seu mordomo estivera dissipando seus bens. O homem rico demitiu por justa causa seu servo. Nesse momento ocorreu ao mordomo que para subsistir sem seu trabalho, precisaria de amigos - por isso amortizou a dívida dos devedores de seu senhor. "E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente"(Lucas 16:8). O homem rico ficou satisfeito, talvez nem tanto pela misericórdia de seu mordomo infiel, mas por ter ele achado um meio de fazer com que os inadimplentes pagassem seus débitos. A história não informa, mas a atitude ultima do mordomo deve ter feito com que "cada um dos devedores do seu senhor" (Lucas 16:5) - que não deviam ser poucos - honrassem seus compromissos - ainda que não de maneira completa, mas de maneira suficiente e justa - de tal forma que credor e devedor ficassem completamente satisfeitos. Por ter promovido essas negociações e mediações com tal primor, esse mordomo talvez pudesse ser considerado o pai das empresas de cobrança! Não nos é dito se o mordomo recuperou seu emprego. Mas a parábola, conforme registrada, perfeitamente culmina na seguintes lições:
                (1) "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz" (Lucas 16:8);
                (2) "Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos" (Lucas 16:9);
                (3)"Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?" (Lucas 16:10-12).
                Em Doutrina e Convênios 82, Joseph Smith recebeu uma revelação - datada de 26 de abril de 1832 - onde o Senhor explica princípios semelhantes aos que são explicados em Lucas 16. A Igreja era nova. Havia surgido intrigas entre alguns irmãos - inclusive que serviam como líderes. Essa revelação foi recebida na ocasião em que o Profeta foi apoiado como Sumo Sacerdote Presidente (ver cabeçalho da seção 82). O Senhor ensinou vários princípios importantes, eis alguns:
                (1) "A quem muito é dado, muito é exigido; e o que pecar contra a luz maior receberá a condenação maior" (D&C 82:3)
                (2) "Eu, o Senhor, estou obrigado quando fazeis o que eu digo; mas quando não o fazeis, não tendes promessa alguma." (D&C 82:10)
                (3) "E agora, em verdade vos digo e nisto há sabedoria: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça e eles não vos destruirão. Deixai o julgamento somente para mim, porque ele é meu e eu recompensarei." (D&C 22:-23)
                É interessante estudar Lucas 16 antes de D&C 82. Entendemos muito melhor o que o Senhor quis dizer na Revelação Moderna. O Senhor é o homem rico. Realmente ele tem muitos devedores - porque todos somos "eternos devedores" Dele (Mosias 2:21-25, 4:16-20). Ele chamou alguns como seus mordomos. Foi dado muito a esses servos. E a quem muito é dado muito é exigido. Se até aqueles que são "filhos deste mundo" são sábios - a ponto de agradarem a seu senhor e conseguirem benefícios com seus semelhantes - os filhos da luz deveriam também agradar a Seu Deus e cultivar amizade com todos.
                O Manual do Aluno do Seminário do Curso do Novo Testamento explica sobre Lucas 16:1-15: "Jesus não estava dizendo que devemos ser desonestos como aquele mordomo. Em vez disso, Ele ensinou que até um homem cuja vida esteja centralizada no dinheiro sabe como planejar para o futuro. Quão mais aqueles que compreendem as coisas de Deus deveriam planejar para o futuro: para a vida futura. Os gananciosos fariseus fingiam ser seguidores de Deus, no entanto tinham mais interesse em conseguir as coisas que o mundo oferecia."(pg. 67)
                O Manual do Aluno do Instituto do Curso de Doutrina e Convênios explica sobre D&C 82:22: "O mandamento do Senhor, de que os santos deviam 'granjear amigos com as riquezas da injustiça', parece uma exigência difícil, se não for bem compreendida. Ao dizer que os santos deviam fazer amizade com 'as riquezas da injustiça', o Senhor não pretendia que os irmãos compartilhassem de seus pecados; que os aceitassem em seu meio e contraíssem casamento com eles, ou se rebaixasse a seu nível de qualquer outra forma. Eles deviam viver lado a lado, de tal maneira, que pudessem coexistir em paz com seus inimigos. Era mister que os tratassem gentilmente, que fossem amigáveis com eles até o ponto em que permitissem os princípios da decência e da virtude, porém jamais deveriam chegar ao ponto de usar de sua linguagem vulgar, de beber ou se degradar com eles. Se pudessem controlar os preconceitos e se mostrar dispostos a negociar com eles, evidenciando um espírito de cordialidade, isso muito contribuiria para diminuir o rancor que sentiam. O julgamento deveria ser deixado a cargo do Senhor."  (178)
                Esse mesmo manual explica também: "Numa parábola que muitas pessoas consideraram inquietante, o Salvador questionou a prudência de um mordomo que se preparou para o futuro enganando seu senhor (ver Lucas 16:1-8). O Salvador afirmou: "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz (...) Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?" (Lucas 16:8, 11.) O Élder James E. Talmage explicou a lição ensinada por Jesus e o relacionamento que ela tem com as mordomias terrenas: "O propósito de nosso Senhor era mostrar o contraste entre o cuidado, consideração e devotamento de homens ocupados em afazeres terrenos lucrativos, e o pouco entusiasmo de muitos que afirmam estar buscando as riquezas espirituais. Homens preocupados com as coisas do mundo não negligenciam as provisões para futuro, e frequentemente se esforçam, de maneira pecaminosa, para acumular abundância, enquanto os 'filhos da luz', ou aqueles que acreditam que a riqueza espiritual está acima de todas as possessões mundanas, são menos vigorosos, prudentes ou sábios. Por 'riquezas da injustiça', ou 'mamon da iniquidade', como aparece na versão inglesa, podemos entender riquezas e coisas mundanas. Embora muito inferior aos tesouros do céu, o dinheiro, ou o que ele representa, pode ser o meio de realizar o bem, e de ajudar a cumprir os propósitos de Deus. O conselho de nosso Senhor foi utilizar 'mamon' em boas obras, enquanto ele durar, pois um dia poderá faltar, e somente os resultados alcançados pelo seu uso perdurarão. Se o administrador iníquo, quando expulso da casa do patrão por desonestidade, pode esperar ser recebido nos lares daqueles a quem favoreceu, quão mais confiantemente aqueles que se dedicam genuinamente ao bem podem esperar ser recebidos nas mansões eternas de Deus! Isso parece ser parte da lição.
                "Não foi a desonestidade do administrador que a lição exaltou; entretanto, sua prudência e previsão foram elogiadas (...) A lição pode ser resumida desta forma: Faça uso de sua riqueza para garantir amigos no futuro. Seja diligente, pois o dia em que pode fazer uso de suas riquezas terrenas logo passará. Aprenda até mesmo com os desonestos e com os iníquos. Se eles são tão prudentes, de modo que armazenam provisões para o único futuro de que cogitam, quanto mais vós, que acreditais em um futuro eterno, deveis armazenar provisões para esse futuro." (Jesus, o Cristo, pp. 447-448.) (pg. 152)
                Granjear amigos com as riquezas da injustiça esta muito bem explicado nas citações acima. Mas porque, se fizermos isso, seremos recebidos por eles nos tabernáculo eternos? Simplesmente significa que quando as riquezas matérias findarem, seremos recebidos nos céus - por termos agido bem com aqueles que estão ao nosso redor - muitos dos quais, inclusive, não apreciam nossa fé. E ainda nos surpreenderemos por perceber que aqueles que não aceitaram nossa religião estarão lá, nos paraíso, recebendo-nos. Porque, a eles não muito foi dado e, portanto, não muito foi cobrado - sim, viveram segundo a luz que possuíam - e por isso merecem uma recompensa nos tabernáculos eternos. E ao receberem todas as ordenanças na Casa de Deus, serão salvos no Reino Celestial (D&C 137:7-10).

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