7 de ago. de 2012

Intenção ou Ação - o que vale mais para Deus?


                O Senhor se importa mais com a intenção ou com a ação? Qual é mais importante? Investiguemos as escrituras para descobrir as respostas a tais perguntas.

Vida Pré-mortal
                Na vida pré-mortal decidimos vir a Terra, sermos provados para que, se nos tornássemos dignos voltássemos à presença de Deus em glória eterna (clique aqui para saber mais sobre a Vida Pré-Mortal). Muito bem. Essa era nossa intenção. Todavia, a mera intenção não foi, e não é, suficiente para o recebimento de tal maravilha. Precisávamos de uma experiência na mortalidade - precisávamos viver pela fé, e não por visão. Precisávamos conhecer por nós mesmos algumas coisas que nos preparariam para eternidade em glória ao lado do Pai. Na Terra teríamos o privilégio de desenvolver relacionamentos familiares, passar por dor, sofrimento, morte - mas também alegria, paz e vida. Se tivéssemos tão somente a intenção de conhecer essas coisas - não as conheceríamos realmente. A informação por si só não teria o poder de transformar-nos, de nos refinar a ponto de estarmos prontos para cumprir nosso destino eterno. Precisamos ser colocados em uma situação e condição em que fôssemos agentes. Não que não tivéssemos o arbítrio nos céus - porque evidentemente o usamos para escolher o Salvador Jeová - mas a plenitude desse arbítrio só poderia ser usada quando deixássemos a presença do Pai.
                Na pré-mortalidade, como falei, escolhemos o Salvador. A simples e pacata intenção de não seguir Lúcifer não nos colocou entre os valentes, nem nos tornou "grandes e nobres" (Abraão 3:22). Os espíritos que usaram sua fé no Plano de Deus, que tinha como parte principal a Expiação do Senhor Jesus Cristo, agiram com todo vigor. Ao lado de Miguel utilizaram todo seu testemunho, sacerdócio e influência para permanecer ao lado do Pai, procurar convencer seus irmãos e expulsar os rebeldes (Apocalipse 12:11).
                Assim, nos céus, o que contou mais foi nossa ação, e não a intenção. É verdade que por trás das boas ações sempre há boas intenções. Porém boa intenção sem boa ação é insuficiente. O que contou lá foram as realizações.
                Lembremo-nos também de Lúcifer - que tinha, em parte, uma boa intenção: a de salvar todos os filhos do Pai. Claro que para isso, ele desejava implementar um "novo" Plano de Salvação - o qual nos privaria da liberdade, destronaria Deus, e o elevaria a Senhor do Universo - tendo a Honra, Poder e Glória do Pai. Seu pecado imperdoável lhe custou tudo. Ele e um terço dos filhos do Pai foram expulsos para sempre. Sua aparente boa intenção o guiou à más ações. Isso porque a boa intenção era uma mascará para intenções malignas - sim, o orgulho e rebeldia. A boa intenção neste caso não bastou. Se as ações forem más do que adianta a intenção? Na realidade, ações más demonstram, com o tempo, que no fundo a intenção também era má.

Mortalidade e Doutrina da Graça
                Agora falemos da mortalidade, este Estado no qual nos encontramos. Noé, um homem que "foi perfeito em sua geração" pregou durante muitos anos arrependimento. Não obstante, apenas oito almas humanas se salvaram pela água - sua família imediata (I Pedro 3:20). Sua intenção certamente era a de abençoar o mundo todo e salvar seus irmãos e irmãs - porque se não, qual a razão de uma missão tão longa - sim, de 120 anos? Quando o tempo da humanidade estava acabando, Noé "sentiu pesar e doeu-lhe o coração por ter o Senhor formado o homem na Terra; e isso lhe afligiu o coração" (Moisés 8:25). Todavia "Noé encontrou graça aos olhos do Senhor" (Moisés 8:27). Se as ações de Noé fossem mais importantes ele não teria "achado graça", nem teria sido considerado um homem "justo e perfeito em sua geração". A intenção de Noé é o que contou neste caso. Mas não se enganem. A intenção valeu do que as realizações neste caso, porque Noé fez tudo o que estava ao seu alcance - mas as pessoas tomaram as próprias decisões. Elas tinham o arbítrio - e o usaram erradamente para não escutar Noé.
                A doutrina da graça nos ensina que "somos salvos pela graça depois de tudo o que pudermos fazer". Assim, a graça, que é o poder capacitador e compensador que advém da Expiação de Cristo, pode santificar-nos.
                Por exemplo, temos o mandamento de sermos perfeitos. Mas eu não conheço ninguém que se ache perfeito e não creio que ninguém o seja. Todos temos falhas e é bem provável que não alcancemos a perfeição neste Estado. Entretanto nossa intenção de tornarmo-nos perfeitos junto a nossas boas ações qualificam-nos para graça divina.
                Imaginemos que para alcançar a exaltação precisemos passar em uma prova de 10 questões - cada uma valendo um ponto. Apenas os que acertarem 100% das questões poderão adentrar o Reino Celestial no grau mais elevado. Os que tirarem outra pontuações, mas não acertarem tudo - não forem perfeitos - receberão outros Reinos de Glória, mas não entrarão na exaltação e cumprirão a medida de sua criação. Pois bem, que eu saiba, apenas Jesus Cristo tirou 10 nesta prova - apenas Ele nunca errou e pecou. Então o Reino Celestial é um lugar bem vazio não é... E é muito difícil, quase que impossível alcançar a vida eterna... Não, não é assim. Não é assim devido a graça de Cristo. Imaginemos que nossa intenção seja tirar dez na prova. Essa é nossa intenção sincera. E porque temos tal desejo, se sabemos que somos fracos e falhos? Porque nosso Mestre disse-nos que é possível. Vamos supor, que ao começarmos ao terminarmos o teste, após horas de angustia e dificuldades diversas, fazendo, porém, o melhor ao nosso alcance, segundo nossa capacidade - recebamos a noticia de que nossa nota: 4. Estamos bem longe dos 10 exigido. Todavia, de forma misericordiosa, Jesus Cristo concede-nos 6 pontos a mais. Ele pode fazer isso? Sim! Porque? Porque Ele realizou a Expiação e satisfez as exigências da justiça. É como se Cristo tivesse feito a tortuosa prova para nós. Por todos nós - e tirasse 10 por todos. E agora, tendo realizado todas as provas, ainda assim permite-nos adquirir experiência, usar a borracha do arrependimento aqui e ali e fazer o nosso melhor com o tempo que nos é dado. Depois, caso falte pontos, Ele vem, de maneira extremamente compassiva e empática e nos concede a nota máxima. E isso não é tudo. Durante o teste, Ele não nos deixa sozinhos. Envia profetas, anjos e o Espírito Santo. A prova é com consulta, se quisermos. Podemos usar as escrituras e a sabedoria da velha geração. Isso não é injustiça. Não é uma prova injusta. A nota máxima que Cristo nos concede não é injusta, visto que os pontos exigidos foram alcançados. Isso é pura misericórdia. Ele é o Mestre, Ele deu a prova. Ele pode perceber e levar em conta a intenção.
                Esse exemplo simples não abrange toda a gloriosa doutrina da Expiação, mas revela que a intenção de se tornar perfeito é o fator que mais conta, caso façamos o máximo ao nosso alcance. Realmente é-nos dito que seremos julgados não só pelas obras, mas também pelos desejos de nosso coração (Alma 41:3).
                Uma parábola que exemplifica bem esse fato é a dos trabalhadores da vinha. Alguns foram chamados para trabalhar na vinha na primeira hora do dia com a promessa de que teriam a Vida Eterna, se trabalhassem. Depois outros foram sendo chamados no decorrer do dia. Faltando uma hora, mais foram chamamos. No acerto de contas, todos receberam o mesmo - independentemente da quantidade de tempo trabalhado. O que contou não foram as realizações - não apenas. Mas o fato de desejarem trabalhar, e de terem trabalhado - ainda que um pouco - comparado aos primeiros.
                Para uma melhor compreensão desse princípio creio ser adequado mencionar Oliver Granger. O Presidente Boyd K. Packer ensinou:
                "Há uma mensagem para os santos dos últimos dias numa revelação raramente citada, dada ao Profeta Joseph Smith em 1838: “Lembro-me de meu servo Oliver Granger; eis que em verdade lhe digo que seu nome será conservado em lembrança sagrada de geração em geração, para todo o sempre, diz o Senhor”. (D&C 117:12)
                Oliver Granger era um homem muito comum. Era quase cego, tendo “perdido a visão pela exposição ao frio e intempéries”. (History of the Church, vol. 4, p. 408.) A Primeira Presidência descreveu-o como “um homem da maior integridade e virtude moral; em resumo, um homem de Deus”. (History of the Church, vol. 3, p. 350.)
                Quando os santos foram expulsos de Kirtland, Ohio, numa cena que se repetiria em Independence, Far West e em Nauvoo, Oliver foi deixado para trás para vender suas propriedades pelo pouco que conseguisse receber por elas. Não havia muita chance de ele ter sucesso. E, de fato, ele não teve!
                Mas o Senhor disse: “Portanto, que pleiteie sinceramente a redenção da Primeira Presidência da minha igreja, diz o Senhor; e, quando ele cair, tornará a erguer-se, pois seu sacrifício ser-me-á mais sagrado que seu crescimento, diz o Senhor”. (D&C 117:13)
                O que Oliver Granger fez para que seu nome se tornasse uma lembrança sagrada? Não muito, na verdade. Não foi tanto pelo que ele fez, mas pelo que ele era.
                Ao honrarmos Oliver, talvez grande parte ou a maior parte da honra devesse ser prestada a Lydia Dibble Granger, sua esposa.
                Oliver e Lydia finalmente partiram de Kirtland para reunirem-se aos santos em Far West, Missouri. Tinham se afastado apenas algumas milhas de Kirtland, quando foram obrigados a voltar devido a uma multidão enfurecida. Somente mais tarde eles puderam reunir-se aos santos em Nauvoo.
                Oliver morreu aos 47 anos de idade, deixando Lydia sozinha para cuidar dos filhos.
                O Senhor não esperava que Oliver fosse perfeito, talvez nem que ele tivesse sucesso. “Quando ele cair, tornará a erguer-se, pois seu sacrifício ser-me-á mais sagrado que seu crescimento, diz o Senhor.” (D&C 117:13)
                Não podemos esperar ter sempre sucesso, mas podemos tentar fazer o melhor possível.
                “Pois eu, o Senhor, julgarei todos os homens segundo suas obras, segundo o desejo de seu coração.” (D&C 137:9)
                O Senhor disse à Igreja:
                “Quando eu dou um mandamento a qualquer dos filhos dos homens de fazer um trabalho ao meu nome e esses filhos dos homens usam toda a sua força e tudo o que têm para realizar esse trabalho e não deixam de ser diligentes; e são atacados por seus inimigos e impedidos de realizar esse trabalho, eis que me convém já não requerer das mãos desses filhos dos homens o trabalho, mas aceitar suas ofertas. (…)
                E isso dou-vos como exemplo, para vossa consolação com respeito a todos os que foram mandados fazer um trabalho e foram impedidos pelas mãos de inimigos e por opressão, diz o Senhor vosso Deus.” (D&C 124:49, 53; ver também Mosias 4:27.) ("Um desses meus pequeninos irmãos", Conferência Geral, Outubro de 2004)
                Parece então que o que mais vale para Deus é nossa intenção, quando o arbítrio de outras pessoas ou nossas próprias fraquezas nos impedem de tirar 10 na prova.

O que vale mais
                O que, afinal, vale mais para Deus: a intenção ou a ação? Depende, é a resposta mais acertada! Viemos a Terra para agir. É esperado que "[façamos] muitas coisas de nossa livre e espontânea vontade, e [realizemos] muita retidão" (D&C 58:27). A importância das ordenanças do evangelho é revelada com isso. Não basta desejar ser batizado - deve-se descer às águas e ser imerso por alguém que tenha autoridade para fazê-lo. Não basta desejar ir ao Templo, devemos ir.
                O Presidente Dieter F. Uchtdorf disse:
                "Meus queridos irmãos, as bênçãos divinas pelo serviço no sacerdócio são ativadas por nosso esforço diligente, nossa disposição em sacrificar-nos e pelo nosso desejo de fazer o que é correto. Sejamos aqueles que agem, e não os que recebem a ação. É bom pregar, mas os sermões que não levam à ação são como fogo sem calor ou água que não mata a sede.
                É na aplicação prática da doutrina que a chama purificadora do evangelho cresce e o poder do sacerdócio incendeia nossa alma.
                Thomas Edison, o homem que banhou o mundo com a brilhante luz elétrica, disse que “o valor de uma ideia está na utilização dela”. De modo semelhante, a doutrina do evangelho se torna mais preciosa quando colocada em prática.
                (...)
                Sabemos que, apesar de nossas melhores intenções, as coisas nem sempre saem de acordo com o que planejamos. Cometemos erros tanto na vida como em nosso serviço no sacerdócio. Vez por outra, falhamos e deixamos a desejar.
                Quando o Senhor nos aconselha, dizendo “continuai pacientemente até que sejais aperfeiçoados”, Ele reconhece que isso exige tempo e perseverança." (http://www.lds.org/general-conference/2012/04/the-why-of-priesthood-service?lang=por)
                Se fizermos o melhor possível a graça de Deus pode refinar-nos e purificar-nos. A intenção, portanto, é o que valerá mais. Mas essa intenção deve ser pura e mesclada com o máximo de ações boas. Insisto nisto, porque uma vez o Presidente Brigham Young disse que o inferno esta cheio de boas intenções. E o Profeta Joseph Smith reconheceu que não há nada pior do que alguém estar fazendo o mal, pensando estar fazendo o bem (Ele disse: "nada prejudica mais os filhos dos homens do que estar sob a influência de um falso espírito, quando pensam que têm consigo o Espírito de Deus" - Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, pg. 407). Assim tanto a ação como a intenção são muito importantes para Deus.
                Como iremos prestar contas a Deus, devemos estar bem preocupados em intentar o que Ele deseja que intentemos - e de agir como Ele deseja que ajamos. Se tivermos essa preocupação receberemos luz e verdade - até obtermos o Santo Espírito. O Espírito Santo nos enchera de desejos justos e nos auxiliará nas obras de retidão.

Ação e intenção entre os homens
                Por fim, quero dizer que para os homens, imperfeitos como são, na maioria das vezes, o que conta é a ação, e não a intenção. Isso porque os homens enxergam o que esta diante dos olhos, e não para o coração - como o Senhor. Devemos procurar fazer boas obras diante dos homens para que glorifiquem a Deus (Mateus 5:14). Não obstante, o mais importante é agradar a Deus. E se para fazê-lo desagradamos os homens - que seja assim!
                O Élder James E. Talmage uma vez contou uma parábola sobre dois cofres. Um dos cofres, o bom nome, é nossa reputação - fruto de nossas ações. O outro cofre são as intenções - que são conhecidas por Deus, e são a musculatura do caráter. Encerrarei com essa parábola de Élder Talmage:
                "Entre as notícias recentes, havia o relato de um arrombamento cujos detalhes eram incomuns na literatura do crime. O cofre de uma casa de penhores que lidava com joias e pedras preciosas foi alvo do ataque. Pelo cuidado e habilidade com que os dois ladrões planejaram seu roubo era evidente que se tratavam de criminosos experientes.
                Conseguiram entrar secretamente no edifício e ficaram trancados dentro dele quando as pesadas portas reforçadas foram fechadas à noite. Sabiam que o grande cofre de aço e concreto era muito bem feito, do tipo que tem a garantia de ser à prova de roubos. Sabiam que ele continha um tesouro de imenso valor e confiavam em seu sucesso por causa da paciência, persistência e habilidade que tinham desenvolvido por meio de muitos outros arrombamentos anteriores, porém de menor monta.
                Seu equipamento era completo, incluindo furadoras, serras e outras ferramentas, que eram fortes o suficiente para perfurar até o aço temperado da enorme porta, a única via de acesso ao cofre. Havia guardas armados nos corredores do estabelecimento e as pessoas que se aproximavam do cofre-forte eram diligentemente vigiadas.
                Os ladrões trabalharam durante toda a noite, furando e serrando em volta da fechadura, cujo complicado mecanismo não podia ser manipulado, mesmo por alguém que conhecesse a combinação, antes da hora estipulada por um controlador de tempo. Eles haviam calculado que com trabalho persistente teriam tempo suficiente durante a noite para abrir o cofre e pegar tudo de valor que pudessem carregar. Depois confiariam na sorte, na ousadia ou na força para conseguirem escapar. Não hesitariam em matar, se fossem impedidos de fugir. Embora as dificuldades tivessem sido maiores do que o esperado, os hábeis criminosos conseguiram, com o uso de ferramentas e explosivos, chegar até o interior da fechadura.
                Então, moveram as trancas e abriram as pesadas portas.
                O que viram ali dentro? Vocês acham que foram gavetas cheias de joias, com bandejas de diamantes, rubis e pérolas?
                Era isso e muito mais que eles esperavam confiantemente encontrar e pegar, mas em vez disso encontraram outro cofre interno, com uma porta ainda mais pesada e resistente que a primeira, equipada com uma fechadura mecânica ainda mais complexa do que aquela na qual haviam trabalhado tão arduamente. O metal da segunda porta era de qualidade tão superior que quebrou suas ferramentas de aço temperado.
                Por mais que tentassem, nem conseguiram arranhá-lo. Sua energia mal direcionada havia sido desperdiçada. Seu plano abominável havia sido frustrado.
                A reputação de uma pessoa se assemelha à porta externa do cofre do tesouro. O caráter se assemelha à porta interna. Um bom nome é uma defesa muito forte, mas por mais que ele seja atacado ou até mesmo arruinado ou destruído, a alma que ele guarda estará segura, desde que o caráter interno seja inexpugnável." (A Liahona, Fevereiro de 2010, pg. 52)

               A soma de intenções e ações resulta em quem somos - e, no final, resultará em quem seremos. O que realmente importa é quem somos: quem somos para Deus e para nós mesmos. Por meio de Cristo podemos  intentar o que Ele intenta, agir como Ele age - tornando-nos como Ele é.


Para aprofundar recomendo esse ótimo discurso de Édler Oak: "O Desafio de Tornar-se" - http://www.lds.org/conference/talk/display/0,5232,23-2-148-15,00.html

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Lucas,
Gostei muito do texto. Obrigada por seus apontamentos e testemunho.
bjs,
Isa