1 de set. de 2010

Nesta época de eleições algumas considerações sobre o evangelho e a política parecem-me adequadas. De fato, há muitas confusões sobre o tema e um esclarecimento se faz necessário.


O que Deus pensa sobre a política?
Deus deseja ser nosso governante e líder. Entretanto deu-nos o arbítrio. Ele também quer que aprendamos a liderar e ser deuses como Ele. No sistema mais perfeito, o profeta seria o sumo sacerdote presidente da Igreja e do mundo – cuidando de todos os assuntos por revelação. O Reino de Deus teria importância espiritual e secular. Não obstante, devido à fraqueza humana, Deus permitiu que outros sistemas de governo se operassem. Deus se regozija quando há um líder bom como o Rei Mosias, mas certamente se entristece quando um iníquo líder, como o Rei Noé, leva o povo a muita iniqüidade (Mosias 23:7-13).
Deus trabalha com os homens de acordo com sua fé. Por ora permite que haja muitos tipos de governos. Dia virá, entretanto, que o Salvador reinará pessoalmente sobre a Terra. Enquanto esse dia não chega, Ele ordenou a seu povo que se submetessem a autoridade dos governantes, e, se possível, escolhessem bons líderes (Pregar Meu Evangelho pg. 82)
Joseph Smith escreveu por inspiração a sessão 134 de doutrina e Convênios, que fala não só sobre a opinião formal da Igreja, mas também é a própria vontade do Senhor a respeito dos governos humanos:

“NÓS cremos que os governos foram instituídos por Deus em benefício do homem; e que ele considera os homens responsáveis por seus atos em relação aos mesmos, tanto na formulação de leis como em sua execução, para o bem e segurança da sociedade.”
“Cremos que nenhum governo pode existir em paz a não ser que tais leis sejam feitas e mantidas invioladas, de modo a garantir a todo indivíduo o livre exercício de consciência, o direito e domínio de propriedade e a proteção da vida.”
“Cremos que todos os governos requerem necessariamente representantes e magistrados civis para executar suas leis; e devem-se procurar e apoiar pessoas para administrar a lei com eqüidade e justiça, pela voz do povo, caso se trate de uma república, ou pela vontade do soberano.”
“Cremos que a religião foi instituída por Deus; e que os homens são responsáveis perante ele e somente ele, por seu exercício, a menos que suas opiniões religiosas os levem a infringir os direitos e a liberdade de outrem; não cremos, porém, que as leis humanas tenham o direito de interferir na prescrição de regras de adoração para oprimir a consciência dos homens nem de ditar formas de devoção pública ou particular; cremos que o magistrado civil deve reprimir o crime, mas jamais controlar consciências; deve castigar delitos, mas nunca suprimir a liberdade da alma.”
“Cremos que todos os homens têm a responsabilidade de suster e apoiar o governo do lugar em que residem, desde que protegidos em seus direitos inerentes e inalienáveis pelas leis de tal governo; e que o motim e a rebelião são inadequados a todo cidadão assim protegido e devem ser punidos de acordo; e que todos os governos têm o direito de estabelecer leis que, a seu ver, sejam mais adequadas para assegurar os interesses públicos; ao mesmo tempo, contudo, mantendo sagrada a liberdade de consciência.”
“Cremos que todo homem deve ser respeitado em sua posição, governantes e magistrados como tais, sendo nomeados para proteção dos inocentes e punição dos culpados; e que todos os homens devem respeito e deferência às leis visto que, sem elas, a paz e a harmonia seriam suplantadas pela anarquia e pelo terror; as leis humanas foram instituídas com o propósito expresso de regular nossos interesses como indivíduos e nações, entre um homem e outro; e as leis divinas foram dadas pelo céu, para prescrever regras sobre assuntos espirituais, para fé e adoração, devendo o homem dar contas de ambas a seu Criador.”
"Cremos que governantes, estados e governos têm o direito e a responsabilidade de promulgar leis para a proteção de todos os cidadãos no livre exercício de suas crenças religiosas; mas não cremos terem eles o direito, por justiça, de privar os cidadãos desse privilégio nem de rejeitá-los por suas opiniões, enquanto mostrarem consideração e reverência pelas leis e suas opiniões religiosas não incentivarem motins nem conspirações.”
“Cremos que a perpetração de um crime deve ser punida de acordo com a natureza do delito; que o homicídio, a traição, o roubo, o furto e a violação da paz geral, em todos os aspectos, devem ser punidos de acordo com sua criminalidade e sua má influência entre os homens, pelas leis do governo sob o qual o delito tiver sido cometida; e para a paz e tranqüilidade públicas, todos os homens devem usar sua habilidade para entregar os transgressores das boas leis ao castigo.”
“Não cremos ser justo misturar influência religiosa com governo civil, o que faz com que uma sociedade religiosa seja favorecida e outra, restrita em seus privilégios espirituais; e os direitos individuais de seus membros, como cidadãos, sejam negados.”
“Cremos que todas as sociedades religiosas têm o direito de lidar com seus membros, em caso de conduta inadequada, de acordo com as regras e os regulamentos dessas sociedades; desde que tal ação se limite à participação e posição da pessoa na sociedade a que pertença; mas não cremos ter qualquer sociedade religiosa autoridade para julgar os homens quanto a seu direito a propriedade ou à vida; para confiscar-lhes os bens deste mundo, ou para pô-los em perigo de vida ou de danos físicos ou para infligir-lhes qualquer castigo físico. Podem, apenas, excomungá-los de sua sociedade e negar-lhes participação.”
“Cremos que todos os homens devem apelar para as leis civis a fim de conseguir reparação de todas as injúrias e agravos, quando se lhes infligirem maus-tratos pessoais ou infringirem-se seus direitos à propriedade ou reputação, onde existirem leis para protegê-los; mas cremos que todos os homens são justificados por se defenderem e defenderem seus amigos e seus bens e o governo de ataques ilegais e de violações de direitos cometidos por qualquer pessoa, quando não se puder apelar de imediato às leis nem se puder obter auxílio.”
“Cremos ser justo pregar o evangelho às nações da Terra e exortar os justos a salvarem-se da corrupção do mundo; mas não cremos ser correto interferir na vida dos escravos nem pregar-lhes o evangelho nem batizá-los contra a vontade e o desejo de seus senhores, nem envolver-se com eles ou influenciá-los de qualquer forma, de modo a torná-los descontentes com sua situação nesta vida, pondo assim em risco vidas humanas; tal interferência cremos ser ilegal e injusta e perigosa para a paz de todo governo que permita a escravidão de seres humanos.”

Fico impressionado com a sabedoria de Joseph Smith ao escrever tal sessão. Na verdade, não foi Joseph quem criou essas crenças – foi o próprio Deus. Ele as ditou ao profeta.
Nessa declaração aprendemos que não misturamos influencia religiosa com influencia política. Não usamos as capelas para exercer nosso sufrágio universal: expondo nosso pareceres políticos e desejando votos a nosso favor ou de outrem. Somos livres para expressar nosso opinião, mas devemos fazê-lo fora da igreja. Especialmente os líderes. Houve uma experiência desgostosa para Igreja:

“Durante todo esse árduo processo de reconciliação [Utah se tornando Estado], as discórdias e mal entendidos a respeito das questões políticas continuaram existindo entre os membros da Igreja. Até mesmo algumas Autoridades Gerais foram afetadas, pois alguns faziam campanha pelas medidas políticas e candidatos democratas e outros pelos republicanos. A questão política chegou ao auge quando em 1895, o Élder Moses Thatcher, do Quórum dos Doze Apóstolos, aceitou a nomeação do partido democrata para ser senador por Utah e o Élder B. H. Roberts, do Primeiro Conselho dos Setenta, concorreu a um cargo no congresso pelo mesmo partido. Eles sofreram medidas disciplinares por terem aceitado a nomeação sem consultarem primeiro seus líderes da Igreja. Nenhum deles foi eleito.
Em abril de 1896, as Autoridades Gerais publicaram uma declaração formal, conhecida como a lei política da Igreja ou o Manifesto Político. Ele salientava a separação entre a igreja e o estado, bem como a intenção da Igreja de não interferir nos direitos políticos de qualquer de seus cidadãos.
A declaração acrescentava ainda que para continuar havendo paz e boa vontade em Utah, era desaconselhável que os líderes mais importantes da Igreja “aceitassem cargos políticos ou empregos que os desviassem ou afastassem do cumprimento de seus deveres religiosos, sem antes consultar e obter a aprovação de seus associados e daqueles que os presidem”.
A princípio, B.H. Roberts achou que o documento restringia seus direitos e recusou-se a assiná-lo. Depois que as outras Autoridades Gerais conversaram com ele, oraram com ele e procuraram fazê-lo compreender, ele por fim assinou o documento. O Élder Moses Thatcher, apesar de esforços semelhantes terem sido feitos por ele, ainda assim recusou-se a colocar sua assinatura no documento. Por esse motivo, ele foi desobrigado do Quórum dos Doze, apesar de manter sua condição de membro da Igreja. O Manifesto Político continuou a ser o padrão que rege as atitudes da Igreja com respeito à política.”
Fica claro pelas escrituras que o Senhor deseja que não nos envolvamos na política. Na verdade devemos nos envolver ativamente – elegendo bons governantes e, se desejarmos, concorrendo a cargos políticos. Todavia, é de vital importância que não usemos nossa influencia religiosa (cargo na Igreja, por exemplo), para obter votos – e nem é adequado fazer campanha em lugares de adoração.
Seremos responsáveis perante Deus pelo exercicio de nosso sufrágio universal. Que possamos escolher bem os líderes da comunidade e orar para que eles façam boas escolhas. A mão da providência é invisível, mas tem o controle de tudo e todos. Confiemos em Deus, e depois aguardemos com extrema segurança o Reino que destruirá todos os outros.

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