Zorã, mencionado no Livro de Mórmon, é citado como o “servo de Labão”. Quando Néfi diz a Zorã que vá com ele ao deserto, e promete que ele será um homem livre (1 Néfi 4:33), estava querendo dizer que Zorã não seria mais escravo?
A palavra “escravo” aparece em outras partes do Livro de Mórmon (mais precisamente em oito lugares). A escravidão era proibida entre os nefitas (Alma 27:9). A servidão certamente era uma condição diferente da escravidão na cultura leíta (por exemplo, Mosias 22:4). Amon foi servo do rei Lamôni, não necessariamente seu escravo (Alma 17:25). É bem verdade que a distinção entre ser escravo e ser servo era muito tênue entre os lamanitas do tempo de Amon, pelo que lemos no livro de mórmon. É possível que os servos gozassem de certa autonomia enquanto os escravos fossem servos sem direitos algum – tratados de maneira semelhante aos animais domésticos – como na cultura do Velho Testamento (Levítico 25:42). Mas a investigação sobre a servidão de Amon não responde a pergunta sobre Zorã por dois motivos principais: (1) Zorã viveu cerca de 400 anos antes de Amon – um nasceu no Velho Mundo e outro no Novo Mundo – as culturas dos dois lugares era muito distinta – sendo que a servidão e a escravidão apresentavam provavelmente muitas diferenças quanto a forma e função; (2) o escritor que fala de Zorã é Néfi (que viveu 600 anos antes de Cristo) e o escritor que fala de Amon, e cita as palavras “escravidão” e “servo” com mais frequência no Livro de Mórmon, é Mórmon (que viveu cerca de 350 depois de Cristo) – há mil anos de diferença entre um autor e outro – sendo, por isso, o valor do termo “escravo” e “servo” passível de significado diverso para cada um deles – inclusive para Joseph Smith (o tradutor) e para nós (os leitores atuais).
Mas porque essa questão é importante? Pelo simples fato que Zorã veio para as Américas e misturou seu sangue com os leítas. Zorã era membro da casa de Israel? Se ele fosse um escravo de Labão não era necessariamente um israelita (Levítico 25:44-46). Verdade é que Judá estava em crise na época do rei Zedequias – e os escravos eram muito caros. Todavia, Labão é apresentado como um homem rico, de muitas poses e servos, com influencia na Igreja e na sociedade (1 Néfi 3-4). Ter um escravo ou servo, que possuía acesso ao tesouro, era perfeitamente possível, e muito provável, na verdade, para um homem como Labão.
A lei de Moisés permitia a escravidão, mas não permitia que israelitas fossem escravizados por israelitas (Levítico 25:39). Certamente havia exceções – como a compra de um israelita que já era escravo.
Zorã conhecia o Deus de Israel, porque o juramento de Néfi e seu discurso para convencer Zorã se baseou no nome desse único Deus verdadeiro (1 Néfi 4:33-34). Além disso, Zorã conhecia os costumes dos judeus e relatava sobre a igreja para seu amo (1 Néfi 4:22, 28). Esses fatos são fortes indicações que tinha o sangue de Israel.
Fosse Zorã um escravo israelita, um escravo gentio ou um servo israelita gozava de certa autonomia perante Labão e ao ir com Néfi tornou-se livre como ele. As escrituras indicam que Néfi e Zorã se tornaram grandes amigos (2 Néfi 1:30). Zorã foi abençoado com Néfi – e a descendência dele foi contada com a dos nefitas, o que significa que tinham direito ao sacerdócio e todas as bênçãos do evangelho. A hipótese de que Zorã era descendente de Caanã é desconsiderada. Ele também não era levita, porque não havia sacerdócio levítico entre os nefitas (2 Néfi 1:6). Provavelmente não era efraimita ou manasseíta. Talvez fosse judeu. Ou talvez fosse ismaelita.
Não consegui chegar a um veredito sobre se Zorã era ou não era um escravo, nem qual sua etnia. Aceito o que diz o Livro de Mórmon, sem se preocupar com questões desse tipo: ele, Zorã, era um servo que não gozava de plena autonomia. Quando ele foi com Néfi não apenas obteve liberdade da servidão (ou escravidão), mas também a liberdade espiritual. O Senhor queria que Zorã fosse para as Américas. Não foi um acidente. Um dos propósitos de o Senhor enviar Néfi a casa de Labão era resgatar Zorã. Afinal ninguém vem para as Américas sem ser trazido por Deus (2 Néfi 1:6).
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