Ao começar a contar sobre a jornada de Amon e seus irmãos, Mórmon diz:
“Ora, foram essas as circunstâncias que ocorreram em suas viagens, pois tiveram muitas aflições; sofreram muito, tanto física quanto mentalmente, de fome, sede e cansaço; e sofreram também muitas tribulações no espírito.” (Alma 17:5)
Ao terminar o relato de Amon e seus irmãos, Mórmon resume:
“E este é o relato de Amon e seus irmãos, de suas viagens na terra de Néfi, seus sofrimentos na terra, suas dores e suas aflições, e sua incomensurável alegria (...)” (Alma 28:8).
Fica evidente pela escritura que antes da “incomensurável alegria” vieram às adversidades.
O trabalho missionário é um dos trabalhos mais difíceis, se não for o mais difícil! Há vários motivos porque o trabalho missionário não é fácil.
Um dos motivos principais é por que é o trabalho do Senhor – e Satanás opõem-se a Deus. Todo missionário sabe que o opositor trabalha muito para destruir a obra de Deus. Na missão de Amon e seus irmãos não foi diferente.
Lemos no Livro de Mórmon algumas táticas do diabo – enfurecer, pacificar, enganar:
Alguns ele enfurece, e incita a irarem-se contra o que é bom (2 Néfi 28:19). Isso aconteceu na missão de Amon e seus irmãos – por exemplo, o próprio rei de todos os lamanitas enfureceu-se com Amon (Alma 20:13-16). E também os apóstatas nefitas “ficaram zangados” com a pregação de Aarão (Alma 21:9-10)
Alguns o diabo pacifica e acalenta com “segurança carnal”, de modo que para eles tudo vai bem (2 Néfi 28:21). É o caso dos amalequitas, amulonitas e lamanitas que viviam em Jerusalém (Alma 21:2-3, 5-10), que pensavam que todos seriam salvos no último dia (Alma 1:4)
A outros o demônio lisonjeia dizendo “eu não sou o diabo, porque ele não existe” (2 Néfi 28:22). Lemos que embora os lamanitas acreditassem num Grande Espírito, “pensavam que tudo que fizessem estaria certo” (Alma 18:5)
Outro motivo porque a obra missionária é difícil é porque envolve o arbítrio de outras pessoas. Os irmãos de Amon não tiveram um sucesso tão aparente quanto de Amon, no começo de suas missões, não porque não eram dignos, fiéis ou diligentes. Eles tinham se preparado tanto quanto Amon, mas “haviam tido a infelicidade de cair nas mãos de um povo mais duro e obstinado; portanto não quiseram escutar-lhes as palavras, tendo-os expulsado e batido neles, tendo-os enxotado de casa em casa e de lugar em lugar, até chegarem a terra de Midôni; e ali foram capturados e postos na prisão e amarrados com fortes cordas; e ficaram encarcerados por muitos dias (...)” (Alma 20:30, itálicos adicionados).
Enquanto o povo a quem Aarão e outros pregaram usaram seu arbítrio para dizer: “Não acreditamos nessas tradições tolas. Não acreditamos que saibas coisas futuras (...)” (Alma21:8), o povo de Ismael, que foi ensinado por Amon escolheu acreditar, ser batizados e organizar uma Igreja (Alma 19:35)´. Os resultados externos do trabalho missionário – como o numero de batismos – não medem verdadeiramente o sucesso de um missionário. Porque a colheita pertence ao Senhor (Alma 26: 7 – mais sobre esse assunto será tratado no capítulo 12), e as pessoas tem a liberdade de aceitar ou recusar a verdade.
A próxima razão do porque é difícil o trabalho missionário é porque precisamos adquirir os atributos de Cristo, para servos bons exemplos. Quando, logo no início de seu serviço missionário entre os lamanitas, Amon e seus irmãos estavam a caminho da Terra da Primeira Herança, no deserto, ficaram deprimidos e estavam para voltar (Alma 26:27). Quando pensamos em Amon e seus irmãos lembramos de seu sucesso, pensamos neles como homens fortes que sabiam o que estavam fazendo. Realmente isso é verdade, mas ao estimarmos eles como grandes heróis, podemos supor que não tinham imperfeições, ou que não desanimaram. Na realidade Amon e seus irmãos estavam a ponto de voltar para casa, desistindo da grande obra.
E voltariam talvez porque o deserto – com os rigores climáticos, a alimentação escassa e a pouca água – era bem diferente da agradável capital Zaraenla, e da confortável casa real. Talvez porque seu rei e pai morrera , e estavam preocupados com a família. Talvez porque ficaram assustados com a tremenda tarefa que tinham empreendido, e se sentiram sobrecarregados. Talvez porque lembraram que muitos esforços já haviam sido feitos para reconduzir os lamanitas – e todos, aparentemente haviam sido vãos.
Mas o Senhor os “confortou e disse: Ide para o meio de vossos irmãos, os lamanitas, e suportai com paciência vossas aflições; e eu farei com que tenhais êxito.” (Alma 26:27)
O Senhor também disse: “sereis pacientes nos sofrimentos e aflições , para dar-lhes bons exemplos em mim; e farei de vós instrumentos em minhas mãos para a salvação de muitas almas” (Mosias 17:11)
Quando o Senhor disse a Amon e a seus irmãos isso eles “encheram-se de coragem” (Alma 17:12) Mas essa coragem seria provada muitas e muitas vezes entre os lamanitas: Amon e seus irmãos foram “rechaçados, escarnecidos e cuspidos e esbofeteados; e [foram] apedrejados, e amarrados com fortes cordas e lançados na prisão (...) E [padeceram] toda espécie de sofrimentos; e tudo isso para que talvez [pudessem] ser o instrumento da salvação de algumas almas (...)” (Alma 26:29-30).
Não há sucesso na missão, sem passarmos por provas de fogo. A fé, a integridade, a diligência, a obediência, a caridade e tudo mais são testados ao máximo. Essa é uma prova da misericórdia de Deus, por que as aflições são para nosso bem (D&C 122:7-9).
Ao sermos provados, e passarmos bem nas provações, nos assemelhamos mais a Cristo . Parece que se não formos afligidos não poderemos ser “bons exemplos” aos não-membros, e não poderemos ser eficazes instrumentos nas mãos de Deus.
As adversidades físicas, sociais, familiares, financeiras, mentais e espirituais podem ser esperadas por todos aqueles que embarcam no serviço de Deus.
“Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus sofra agravos, padecendo injustamente (...) Porque para isso sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais suas pisadas.” (I Pedro 2: 19 e 21, itálicos adicionados)
“Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não esta presa. Portanto tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.” (II Timóteo 1:9-10, itálicos adicionados)
Pedro e Paulo, que foram mencionados acima, entendiam que o sofrimento faz parte da condição mortal. A perseguição, a injustiça, a maldade dos homens acomete todos os discípulos de Cristo neste estado telestial: “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3:12)
Lembro que na minha missão o Élder Russell M. Nelson, que nos foi visitar ensinou: “Se vocês não estão sendo perseguidos se arrependam!” Ele quis dizer que Satanás não precisa perseguir os que estão do lado dele –portanto se não estamos sendo perseguidos ou afligidos algo esta errado, e precisa mudar.
Contudo, embora soframos no trabalho missionário temos a promessa do aparo celeste. Todos as aflições não podem nos separar de Deus (Romanos 8: 31, 35-39). Na verdade nos levam mais para perto Dele (Romanos 8: 18, 28).
Vemos isso na missão de Amon e seus irmãos. Foi apenas depois de terem “seus sofrimentos” e ”suas dores e suas aflições” que tiveram a “incomensurável alegria” (Alma 28:8). Foi apenas depois de ficarem deprimidos, que o Senhor os visitou, os consolou e lhes prometeu que teriam êxito (Alma 17:10-11; 26:27)
A outra razão de dificuldade, no caso de serviço missionário de tempo integral, é que estamos longe de casa. A cultura dos lamanitas era diferente das dos nefitas e vários aspectos. As diferenças incluíam: (1) a forma de se vestir – os lamanitas andavam nus exceto por uma curta faixa de pele ao redor dos lombos (Enos 1:20), raspavam a cabeça (Alma 2:5) e se tingiam de vermelho (Alma 3:4). (2) A alimentação talvez fosse bem diferente – pois alguns comiam carne crua (Enos 1:20). (3) A forma de obter lucro ou sucesso era outra (Alma 18:7). (4) A maneira de trabalhar – se é que trabalhavam! – era diferente (Mosias 9:12). (5) A cultura era outra – festas, eventos, organização política, etc (por exemplo, Alma 20:9). E também as (6) tradições e a religião eram diferentes das dos nefitas (Alma 18:5). E havia ainda outras diferenças que os registros não mencionam por não ser esse o propósito do livro.
Os contrastes entre os povos podem ser uma adversidade. Aprender outra língua e/ou adaptar-se as circunstâncias de um povo leva tempo e é difícil. Mas o Senhor prometeu ajudar seus servos. Ele ajudou Amon e seus irmãos. Lembrem-se de que Amon e seus irmãos eram nefitas – inimigos mortais dos lamanitas – mas mesmo assim – com todas as diferenças – herdadas pela História – eles tiveram sucesso – porque não consideravam os lamanitas como inimigos, mas sim, ao contrário, como “irmãos dos nefitas”. Ao amarmos o povo que servimos as dificuldades culturais, sociais e políticas são amenizadas, e até desaparecem.
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