Saber é mais do que crer, como sugere os versículos 13 e 14 de D&C 46. Aqueles que sabem conhecem como são conhecidos e vem como são vistos. Vemos essa diferença na história de Amon:
A rainha ouvira falar sobre a fama de Amon – não só sobre seu grande feito em defender os rebanhos reais, mas sobre sua pregação. Mandou que lhe chamassem. Amon foi até a rainha e perguntou o que ela desejava (Alma 19:1-3).
“E ela disse-lhe: Os servos de meu marido informaram-me que és profeta de um santo Deus e que tens o poder de realizar grandes obras em seu nome; Portanto, se assim é, desejo que entres e vejas meu marido, porque ele já está deitado em seu leito pelo espaço de dois dias e duas noites; e alguns dizem que ele não está morto, porém outros dizem que morreu e cheira mal e que deveria ser sepultado; mas para mim ele não cheira mal.” (Alma 19:4-5)
“Ora, isso era o que Amon desejava, porque sabia que o rei Lamôni estava sob o poder de Deus; sabia que o escuro véu da incredulidade lhe estava sendo tirado da mente e que a luz que lhe iluminava a mente, que era a luz da glória de Deus, que era uma luz maravilhosa de sua bondade—sim, essa luz havia-lhe infundido tanta alegria na alma, tendo-se dissipado a nuvem de escuridão, que a luz da vida eterna se lhe havia acendido na alma; sim, sabia que isto havia dominado o corpo natural do rei e que ele fora arrebatado em Deus” (Alma 19:6).
Amon havia presenciado uma cena parecida num passado não tão distante – seu amigo Alma, havia sofrido algo semelhante ao rei Lamôni (Mosias 27:18-24 e Alma 36:6-10, 15-24). Mas não podemos crer que Amon “sabia” o que estava acontecendo com o rei apenas por sua experiência passada. Deus lhe revelara não só o que estava acontecendo, mas o aconteceria. Quando Amon entrou para ver o rei “soube que não estava morto” e que não deveriam sepultá-lo. (Alma 19:7-8) E foi capaz de prometer quando exatamente o rei se levantaria.
Ele perguntou a rainha se acreditava nele. Ela respondeu que não tivera prova alguma, exceto as palavras daquele nefita – o qual sua tradição abominava, e que ela nunca vira antes – e a palavra de alguns servos. “Não obstante” disse ela, “acredito que serás como dizes” (Alma 19:9).
“E disse-lhe Amon: Abençoada sejas por causa de tua grande fé; digo-te, mulher, que nunca houve tão grande fé entre todo o povo nefita.” (Alma 19:10)A grande fé da rainha tão somente nas palavras daquele profeta desconhecido, se assemelha a fé manifestada pela viúva de Sarepta (I Reis 17:8-16), da mulher de Cananéia (Mateus 15:21-28) e a do Centurião (Mateus 8:5-10).
A rainha velou junto à cama do marido daquele momento até o dia seguinte.
A fé de Amon, da rainha e do rei Lamôni mostram e ensinam muito sobre esse principio fundamental e básico. Amon agiu com retidão, ensinou o rei Lamôni com poder (Alma 17-18). Esse, após ouvir a palavra exerceu tamanha fé que o “escuro véu da incredulidade” começou a ser removido e “a luz da glória e Deus” começou a iluminá-lo (Alma 19:6). Quando o rei Lamôni foi “arrebatado em Deus”, a fé da rainha foi posta a prova (Alma 19:4-5). Amon não apenas acreditava que o rei “estava sob o poder de Deus”, mas ele sabia disso (Alma 19:6-7). E a rainha acreditou em Amon sem relutância (Alma 19:9-10).
As palavras e expressões agir, poder, exercer fé, por a prova, acreditar e saber servem para expor a doutrina da fé de modo claro.
Amon tinha uma grande fé (Éter 12:15). Ele não apenas acreditava, mas sabia sobre a misericórdia de Deus. “A alguns é dado saber, pelo Espírito Santo, que Jesus Cristo é o Filho de Deus (...) A outros é dado crer nas palavras deles (...)” (D&C 46:13). Se Amon não se qualificasse para saber que o que ensinava era verdadeiro, não teria poder para convencer outros a acreditarem em suas palavras.O processo de adquirir fé começa ao lermos ou ouvirmos a palavra de Deus (Alma 32:26-28, Romanos 10:17). Foi assim com Amon e os lamanitas.
Depois disso, tal como Amon: desejamos (Mosias 28:3), pedimos (Mosias 28:5, Alma 17:2-3) e agimos com retidão, mesmo não tendo perfeito conhecimento sobre o assunto, ou somente esperando ser certo e bom (Alma 17:2-38). Foi também dessa maneira que o rei Lamôni adquiriu fé: ouviu a palavra, desejou, pediu e agiu (Alma 18:14-43).
Ao fazermos essas coisas, ter contato com a verdade, desejar ter fé, pedir e agir conforme nós sentimos ser certo, o que corresponde a fazer nossa parte, as ternas misericórdias de Deus (1 Néfi 1:20), na forma de prova, confirmação, sinal ou testemunho, vem. Então adquirimos um conhecimento perfeito a respeito do assunto (Alma 32:34).
“A fé, se não tiver as obras, é morta, em si mesma” (Tiago 2:17) e a ação fervorosa leva ao poder de Deus (1 Néfi 1:20; Alma 57:25-27; Morôni 10:3-5). Não recebemos “testemunho senão depois da prova de nossa fé” (Éter 12:6).
Fé é acreditar em algo que não vemos, mas reconhecemos que existe. Fé “é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hebreu 11:1).
Amon possuía uma fé vigorosa, seu poder lhe adveio por essa fé. Sua fé possibilitou que outros exercessem fé verdadeira. A fé é portanto um princípio de salvação tanto para o individuo como para outros a seu redor.
Quando a “hora estabelecida por Amon” chegou, o rei se levantou como profetizado. Ele disse a sua esposa que estava velando ao seu lado:
“Abençoado seja o nome de Deus e bendita és tu. Porque tão certo como tu vives, eis que vi meu Redentor; e ele virá e nascerá de uma mulher e redimirá toda humanidade que crê em seu nome.” (Alma 19:12-13)
O rei agora não somente acreditava em Cristo, ele o conhecia – tanto quanto conhecia sua esposa. Ele falou claramente que vira seu Senhor. Tornara-se uma testemunha especial, uma testemunha ocular!
Propriamente ele bendisse o gênero feminino, pois uma mulher havia sido escolhida para ser a mãe de Deus. Que honra para as mulheres serem mães, que honra maior seria para Maria conceber o Filho Primogênito e Unigênito de Deus (1 Néfi 11:18-20; Alma 7:10; Lucas 1:42-49).
Na fala do rei há ainda o ensinamento conclusivo sobre a fé: apenas os que crerem em Deus poderão ser redimidos (Alma 9:27; 2 Néfi21-24).
Saber que Jesus é o Cristo
Eis o testemunho de um dos que sabem:
“Tenho agora o privilégio e a bênção de deixar com vocês meu testemunho e bênção. Faço isso como uma das testemunhas especiais, declarando com toda a convicção de meu ser e todas as células de meu corpo, do alto da cabeça até a sola dos pés, que Jesus é o Cristo e o Redentor do mundo e nosso Salvador, o cabeça desta Igreja. Sei que Ele está próximo da liderança desta Igreja. Sei que Seu Espírito está ao alcance de todos nós individualmente e em nossos chamados. Ele vive. Não tenho dúvida alguma disso. Posso testificar com a mesma convicção e certeza que tinha o irmão de Jarede. Está escrito que, ao ver o dedo de Deus, ele não mais creu, porque passou a saber (ver Éter 3:6, 19).”
“Sei e testifico com as palavras de Pedro. Quando alguns dos santos começaram a se afastar, o Salvador ficou desanimado e perguntou aos Doze: “Quereis vós também retirar-vos?” Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente” (João 6:67). Por essa mesma autoridade, presto testemunho de Sua divindade e de Seu ser, e sei disso com uma certeza que ultrapassa o conhecimento decorrente do sentido da visão, porque nos é dado pelo Espírito saber com uma certeza maior do que a proporcionada pelos sentidos físicos.”(Inícios, James E. Faust, http://www.lds.org/library/display/0,4945,538-1-3465-12,00.html, itálicos acionados).
Esse homem sabia que Jesus era o Cristo. Na realidade todos os apóstolos precisam saber, pois são chamados como testemunhas especiais de Cristo. São profetas, videntes e reveladores. Dizemos freqüentemente que, como membros da Igreja, temos o privilégio de ter profetas vivos, mas muitas vezes não relacionamos tal bênção com o conhecimento que temos das escrituras. Ora, se Deus é o mesmo, ontem, hoje e para sempre (Hebreus 13:8, Mórmon 9:9), porque razão Ele não se manifestaria aos profetas do mesmo modo que antigamente?
Néfi, Isaías e Jacó viram Deus – foram testemunhas oculares do Senhor Jesus Cristo (2 Néfi 11:2-3). Assim como o irmão de Jarede e Morôni (Éter 3:10-20, 12:39). Moisés também viu o Senhor, face a face (Êxodo 33:11). Adão, Enoque, Noé e Abraão conheciam e andavam com Deus ( ver livros de Moisés e Abraão).
Joseph Smith viu Deus diversas vezes. Muitas estão registradas (JSH 1:16-26, D&C 76:22-24, 110:1-4). Entretanto devemos entender que um testemunho especial vai além do testemunho ocular. Paulo viu Cristo antes de se tornar apóstolo (GEE “Paulo”, Atos 9:1-9). Em certo sentido ele se tornou uma testemunha especial da Ressurreição de Cristo naquela ocasião. Todavia não se tornou uma testemunha especial ordenada, senão posteriormente ao receber autoridade para pregar (Atos 9:27-30). Muitos viram Cristo na mortalidade, mas nem por isso eram testemunhas especiais Dele.
Além disso, o testemunho especial vem pelo poder do Espírito Santo. Mesmo uma aparição pessoal do Salvador, com toda glória – com toda impressão que pode causar a mente e aos olhos – fazendo com que todos os sentidos físicos sejam efervescidos – mesmo isso não é tão poderoso quanto o testemunho do Espírito Santo. Esse testemunho ultrapassa, como disse o presidente Faust, os sentidos físicos. É um dom especial que todos podem receber:
“Em verdade assim diz o Senhor: Acontecerá que toda alma que abandonar seus pecados e vier a mim e invocar meu nome e obedecer a minha voz e guardar meus mandamentos verá minha face e saberá que eu sou” (D&C 93:1).
Não perguntamos a um apóstolo ou a um líder na Igreja – ou a qualquer um – se ele já viu Cristo. Não fazemos isso por um simples motivo: isso é buscar um sinal. Não buscamos sinais. Mas os sinais seguem os que crêem (GEE “Sinais”, Mateus 12:39 e D&C 63:7-11).
Já vi, ouvi e li, vários homens e mulheres se levantarem e prestarem um testemunho especial. Alguns eram líderes de destaque e importância no Reino, outros não, a maioria era bem idosa, mas alguns eram jovens – seus testemunhos eram sempre curtos e simples. Todavia sempre havia um poder especial, um poder confirmador – às vezes as lágrimas faziam companhia, às vezes não – mas o calor, que só sente quem já sentiu o Espírito Santo, era uma constante nesses testemunhos. A simples frase “eu sei”, embora simples, era suficiente. Às vezes, tal frase era seguida, ou precedida por “tenho um conhecimento perfeito a respeito”, “eu O conheço”, “eu sei onde Ele esta” e “tive experiências demasiadamente sagradas, às quais não posso mencionar”. Sempre que esses testemunhos são prestados há luz para os que estão desejosos do bem e pedra de tropeço para os servos do diabo.
Tudo que eu falei até aqui pode e vai parecer absurdo para alguns. Na verdade a maioria vai zombar dessas palavras e dizer coisas como: “eles falam assim para enganá-los e mantê-los presos a essa superstição” ou “eles não sabem nada” ou “porque eu não vejo Cristo então? Não sou digno como ele?”. Todas essas frases foram previstas e profetizadas pelos profetas do Livro de Mórmon (Alma 21:5-6, 30). Minha resposta a todas essas e muitos outros argumentos do diabo e dos homens é simplesmente esse: é preciso haver fé – e fé não é um conhecimento perfeito (Alma 32:21). Começamos crendo nos que sabem e depois, ao nos qualificarmos, passamos a saber também.
Conclusão.
Creio que tratei suficientemente do assunto. Há muito mais a ser dito. Esse testemunho especial pode ser adquirido por todos. Eu sei disso. Entretanto, quer o recebamos nesta vida, quer não, se cumprirmos os mandamentos, teremos a vida eterna, que é o maior Dom de Deus (D&C 6:13). Oxalá que todo povo fosse profeta! (Números 11:29) e visse olho a olho e conhecesse perfeitamente (Alma 36:26). Os passos para se conseguir tal testemunho são desejar e buscar intensamente, guardar todos os mandamentos, tornar-se digno e ter esperança. Sei que é possível porque o Espírito Santo me contou essas coisas. Em nome de Jesus Cristo, Amém.
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